Cadáver (The Possession of Hannah Grace, 2018) marca a estreia do diretor holandês Diederik Van Rooijen em uma produção norte-americana. Sua carreira se iniciou em 1998, e ele se mudou para Hollywood após a boa repercussão de Taped (2012), seu filme de suspense de baixo orçamento premiado no Stony Brook Film Festival.
A trama de Cadáver se passa em Boston, quando a protagonista Megan Reed (Shay Mitchell) começa a trabalhar no turno da noite no necrotério de um hospital. Sua responsabilidade é receber os corpos, tirar suas fotos e as impressões digitais, e cadastrá-los no sistema. Com a chegada do cadáver de Hannah Grace, eventos estranhos começam a acontecer.
O filme consegue captar o ambiente frio das assépticas instalações do necrotério e usar isso a favor do tom arrepiante da história. Porém, a curva dramática do enredo cresce só até certo momento, vindo a cair ao invés de subir até o clímax. Isso acontece porque o diretor Van Rooijen calibra mal o quanto revelar da figura monstruosa de Grace. Quando o corpo chega ao necrotério, o cadáver retorcido e parcialmente mutilado e queimado está coberto com um plástico. Então, vemos apenas detalhes dele quando Megan tenta tirar suas fotos. Enquanto isso, nossa mente está produzindo imagens horríveis assumindo o que o filme oculta. Porém, conforme a história avança, mais se mostra o monstro, e acabamos nos habituando a sua aparência.
Anticlímax
Além disso, o próprio roteiro contribui para esse efeito anticlimático. Afinal, o cadáver se reconstitui a cada morte que ele provoca. Ou seja, quando chega à parte final, ele já tem a forma quase original da menina antes de ser possuída pelo demônio. Aliás, esse quesito da possessão rende o momento mais assustador do filme, que é o prólogo. Nele, dois padres, na presença do pai, tentam exorcizar Grace, que está amarrada em uma cama, com uma aparência distorcida e ameaçadora. Porém, os padres são dominados pelo demônio, e o pai tenta matar a filha sufocando-a. É uma cena muito bem filmada, que capta a estranheza de um exorcismo, e trabalha a imprevisibilidade do que pode fazer uma pessoa possuída.
Porém, Cadáver nunca mais recupera esse terror, apesar de alguns trechos eficientes logo após a chegada do corpo ao necrotério. Depois disso, o filme abusa dos jump scares, que funcionam bem apenas nas cenas vistas através da câmera de segurança do local. Depois que já conhecemos a figura de Grace, a trama se torna uma sucessão de mortes, se aproximando de um slasher com um serial killer com poderes sobrenaturais perseguindo a próxima vítima. E, vale apontar um trecho em que o diretor erra feio ao inserir uma redundante explicação do pai de Grace para a heroína Megan sobre o ritual de exorcismo sobre o qual nós espectadores já estamos cientes.
Shay Mitchell
Megan Reed é o primeiro papel como protagonista da atriz Shay Mitchell, que despontou na série Pretty Little Liars. Em Cadáver, o desafio é moderado, muito apoiado nas destrezas físicas de Shay, que no filme pratica boxe, corre e, por isso, consegue lutar em algumas cenas. A personagem tem uma camada de psicologia, por conta de um trauma por ter falhado em uma missão quando era policial, erro que provocou a morte de um colega. Porém, o filme apresenta isso muito rasteiramente, a partir de uma alucinação que leva ao flashback. Pelo menos, ela supera esse trauma durante essa experiência, pois desta vez ela consegue salvar a vida de outro colega, o seu ex-namorado.
Spoilers adiante. Por fim, Cadáver ainda guarda uma surpresa na conclusão. Através da mosca que antes rondava Grace e agora surge para Megan, descobrimos que o demônio conseguiu possuí-la. Apesar de ser uma surpresa previsível, ela serve para explicar o motivo de Grace não ter matado Megan: o demônio queria o corpo dela.
Enfim, mais slasher do que filme sobre possessão, Cadáver apresenta resultados medianos.
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Ficha técnica:
Cadáver (The Possession of Hannah Grace, 2018) EUA. 85 min. Dir: Diederik Van Rooijen. Rot: Brian Sieve. Elenco: Shay Mitchell, Grey Damon, Kirby Johnson, Louis Herthum, Stana Katic, J.P. Valenti, James A. Watson Jr., Lexie Roth, Jacob Ming-Trent, Gijs Scholten van Aschat, Arthur Hiou, Mickey Gilmore, Maryanne Bayard, Adrian M. Mompoint, Shawn Fitzgibbon, Lisa Wynn, Steven Weisz, Larry Eudene.
Sony Pictures