Com Canção Sem Nome, a diretora Melina León estreia em longas com um estilo rebuscado.
Antes de tudo, é importante entender o tema do filme. Afinal, é da sua cruel estória que surge o tom pesado de Canção Sem Nome.
A trama
Em uma comunidade pobre de uma pequena cidade no Peru, em 1988, Leo e Georgina sobrevivem vendendo batatas. Para agravar a situação, ela está grávida. Então, quando ouve um anúncio no rádio sobre uma clínica itinerante gratuita para gestantes, Georgina logo se encaminha para lá. Porém, após o parto, seu bebê e a clínica desaparecem. Diante do descaso dos órgãos públicos, sua única esperança é o jornalista investigativo Pedro.
Estética
A estética do filme acompanha essa trama agonizante. Para começar, o formato da tela é 1.33 : 1, ou seja, a imagem é quadrada, como as telas de televisão da época da estória. Porém, as filmagens em preto e branco levam Canção Sem Nome para tempos ainda mais antigos. A decisão por essas opções certamente passou pela ideia de se aproximar do expressionismo alemão. Afinal, assim parecem comprovar as cenas onde aparecem o barraco de Georgina e Leo, juntamente à escada íngreme num morro, muitas vezes com forte névoa.
Além disso, o longa-metragem de Melina León soa majoritariamente como cinema mudo. A personagem de Georgina quase não fala. E como o filme não recorre à narração, a personagem comunica o que sente pela sua expressão. Por outro lado, são emocionantes os trechos em que ela berra à porta da clínica que se mudou e naquelas em que ela canta uma música sem nome para um bebê também sem nome.
Para completar, Canção Sem Nome apresenta uma trilha sonora estridente, tocada em violoncelo. Esse hermetismo remete ao recente Sibéria (2020), de Abel Ferrara, e a O Farol (2019), de Robert Eggers. Só faltou a presença de Willem Dafoe, ator desses dois filmes.
Harmonia
Enfim, a mise-en-scène harmoniza a trama, a personagem, o visual e a trilha sonora. Como resultado, Canção Sem Nome é um filme coeso. Porém, perde a força quando se afasta do problema central do roubo do bebê.
Este filme foi selecionado pelo Peru como representante oficial na corrida ao Oscar de Melhor Filme Internacional de 2021.
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Ficha técnica:
Canção Sem Nome (Canción Sin Nombre) 2019. Peru/Espanha/EUA/Chile. 97 min. Direção: Melina León. Roteiro: Melina León, Michael J. White. Elenco: Pamela Mendoza, Tommy Párraga, Lucio Rojas, Ruth Armas, Maykol Hernandéz.
Nota: assistimos a esse filme nas sessões da THE WRAP AWARDS & INTERNATIONAL SCREENING SERIES.
