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O Farol (filme)
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O Farol

Avaliação:
5/10

5/10

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Crítica | Ficha técnica

O filme O Farol pode ser lido como uma variação de O Iluminado. Em ambos, as pessoas enlouquecem em um ambiente isolado com condições climáticas desfavoráveis.

No filme de Stanley Kubrick, Jack Nicholson interpreta o escritor Jack, que se isola com a mulher e o filho pequeno em um hotel vazio em época de nevasca. Já Robert Eggers dirige Robert Pattinson e Willem Dafoe nos papeis de dois faroleiros que juntos trabalham isolados por quatro semanas, cuidando de um farol em uma ilha rodeada por um mar agitado, quando chega uma tempestade.

O Farol é contado na perspectiva de Thomas Howard (Pattinson), o novato da dupla que sofre com a atitude prepotente e agressiva de Thomas Wake (Dafoe), ao demandar dele serviço quase escravo, assediando-o moralmente a todo instante. Quanto mais tempo passam juntos isolados na ilha, mais tensa se torna a relação. Então, Howard começa a ter alucinações com uma sereia e se torna paranoico quanto às intenções de Wake. Ele desconfia principalmente da recusa de Wake em permitir que o rapaz acesse a área do alto do farol, onde fica a lâmpada.

A situação alcança o extremo quando chega uma forte tempestade que impede a vinda do barco que os buscaria ao final do período de trabalho de quatro semanas. As alucinações de Howard aumentam e se tornam mais reais, e as discussões verbais viram agressões físicas.

A direção artística de Robert Eggers

O diretor Robert Eggers, muito elogiado por seu filme anterior, A Bruxa, confirma sua preocupação estilística em O Farol. Para começar, Eggers utiliza o inusitado formato (aspect ratio) com dimensões de 1.19:1, que, além de não exibir as imagens das laterais como nos acostumamos com o widescreen, possui uma altura maior do que a imagem quadrada das antigas televisões, aspecto 4:3. A opção não é gratuita, pois o formato escolhido por Eggers ilustra a estrutura do farol, estreita e alta. Dessa forma, a mise-en-scène coloca os dois personagens mais próximos um do outro, em um espaço restrito.

A fotografia em preto e branco, de Jarin Blaschke, também se conecta com a história. O preto e branco não é bem definido, e possui uma característica cinzenta que acompanha a névoa que insiste em cobrir a paisagem do local do farol. Além disso, a ausência de cores contribui para situar o filme no passado, no século 19. Acrescente ainda a oportunidade que Eggers aproveita para acrescentar características do expressionismo alemão, principalmente as sombras e as linhas inclinadas, e planos inusitados, que também estão alinhados com o clima sombrio de O Farol.

Os diálogos também provocam estranheza, principalmente nas falas de Wake. Usando um inglês das antigas, suas frases soam como se fossem recitadas em uma peça de Shakespeare. As sentenças não são facilmente assimiláveis, portanto. Some a essa dificuldade o fato de existirem muitas conversas rápidas, em discussões muitas vezes ríspidas, e considere que O Farol exige muita concentração do espectador.

Comédia inesperada

Para compensar esse esforço e o clima pesado, há alguns detalhes cômicos espalhados em O Farol. O personagem Wake a todo instante solta peidos, emite barulhos nojentos enquanto come e ele ainda se masturba bastante. Claro que isso tudo ajuda a alimentar a crescente raiva de Howard em relação a ele. Talvez a cena mais engraçada seja a que Wake esbraveja para Howard um longo discurso para convencer que ele cozinha muito bem e, ao final, o rapaz apenas responde: “Ok, eu gosto de sua comida.”, com a maior singeleza.

O som irritante do alarme do farol e os pássaros agressivos também são elementos que tornam enervante o ambiente da ilha. A transformação que acontece com os personagens é ilustrada na cozinha que se torna cada vez mais caótica.

Enfim, o diretor Robert Eggers merece todos os elogios por esses aspectos estilísticos. Porém, é bem provável que assistir ao filme O Farol seja uma experiência entediante para a maior parte do público. Afinal, seu ritmo lento conduz a um desfecho que é previsível. Além disso, os trechos de alucinação provocam uma expectativa de um evento sobrenatural que nunca acontece, a não ser na imaginação deturpada do já desequilibrado Thomas Howard. Saudades de A Bruxa, que não frustra dessa forma seu espectador.

 

O Farol (filme)
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