O cineasta britânico Gareth Evans construiu sua carreira profissional e pessoal na Indonésia, onde dirigiu filmes policiais com artes marciais como Merantau (2009), Operação Invasão (2011) e Operação Invasão 2 (2014). Depois desse início promissor, voltou para o Reino Unido, onde fez o terror Apóstolo (2018), distribuído pela Netflix, que produz este Caos e Destruição (Havoc).
O orçamento maior permite que Gareth Evans conte com Tom Hardy no papel principal, e com nomes conhecidos como coadjuvantes, entre os quais Forest Whitaker, Timothy Olyphant, Jessie Mei Li e Luis Guzmán. Os cenários, as locações e, principalmente, a fotografia do habitual colaborador Matt Flannery (que imprime uma granulação na imagem predominantemente noturna) separam Caos e Destruição de um típico filme B.
Especialista em ação
Mas a principal qualidade do filme está nas cenas de ação. A mistura de armas de fogo com lutas corporais, tudo cuidadosamente coreografado, resulta numa vitalidade raramente vista no cinema contemporâneo do gênero. A primeira delas é uma inusitada recriação na mente do protagonista Walker (Tom Hardy), imaginando em detalhes como foi o massacre que aconteceu na cena de crime que ele investiga.
A segunda cena deslumbra os espectadores que apreciam uma direção estilizada. Um plano sequência elaborado acompanha a personagem Mia (Quelin Sepulveda) do metrô até uma casa noturna, seguida por Walker. Lá dentro, Walker tenta evitar que Mia seja morta por dois grupos – três policiais corruptos e vários membros de uma organização criminosa chinesa. Em seguida, junta-se ao confronto os amigos de Mia, que são ladrões. Por fim, ainda entra no conflito Ellie (Jessie Mei Li), a única personagem honesta do filme. Este embate de tirar o fôlego dura aproximadamente oito minutos.
Na terceira e última cena de ação os sobreviventes e os chefes das quadrilhas medem forças. Menos espetacular que o confronto anterior, ainda provoca muita tensão e confirma o talento de Gareth Evans para esta especialidade. Ao contrário do que acontece na maioria dos filmes atuais, aqui os planos não são exageradamente curtos e é possível compreender todos os golpes e tiros que surgem na tela. O resultado é brutal.
Um mundo sujo
Faltou apontar que, antes dessas cenas de lutas, há uma monumental perseguição na qual vários carros da polícia tentar para um caminhão de cargas que transporta máquinas de lavar-roupas roubado por Mia e seus amigos, entre eles Charlie (Justin Cornwell), filho do candidato a prefeito Beaumont (Forest Whitaker), que é amigo de Walker. Eles não estavam atrás dos eletrodomésticos, mas de uma carga de drogas escondida no caminhão. Posteriormente, quando Mia e Charlie vão entregar as drogas para o chefão do tráfico chinês, este é assassinado pelos policiais corruptos de quem Walker é cúmplice. A máfia chinesa, então, pensa que Mia e Charlie são os assassinos e vão atrás deles, enquanto os policiais desonestos querem matar os dois para não serem reconhecidos.
Como dá para perceber por esse breve resumo, ninguém presta nesse mundo de podridão da trama de Caos e Destruição. Nem mesmo o protagonista Walker que, além de ser um policial desonesto, mostra ser um péssimo pai. Neste lamaçal de sujeira, só se salva a policial Ellie. Este belo filme também é uma exceção entre as produções da Netflix, que tendem a ser formulaicos e apelativos, seguindo uma regra pré-estabelecida. Vale, inclusive, como convite para se conhecer a filmografia de Gareth Evans.
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Ficha técnica:
Caos e Destruição | Havoc | 2025 | 105 min. | Reino Unido, EUA | Direção: Gareth Evans | Roteiro: Gareth Evans | Elenco: Tom Hardy, Jessie Mei Li, Justin Cornwell, Quelin Sepulveda, Luis Guzmán, Michelle Waterson, Sunny Pang, Jim Caesar, Xelia Mendes-Jones, Yeo Yann Yann, Timothy Olyphant, Forest Whitaker.
Distribuição: Netflix.