A premissa louca de Case Comigo (Marry Me) já deve ter passado pela cabeça de muitos roteiristas. Desta vez, ela se concretiza num longa-metragem, porém, sem resolver o seu dilema essencial: como desenvolver a trama mantendo o interesse do público? Bom, vamos aos detalhes.
A ideia maluca do filme coloca em apuros a protagonista Kat (Jennifer Lopez). Estava tudo acertado que essa cantora pop famosíssima se casaria no palco de seu show transmitido ao vivo para milhões de pessoas. Porém, minutos antes, ela descobre que seu noivo, o também célebre cantor Bastian (Maluma), a traiu. Então, num momento de desespero, ela chama ao palco um homem qualquer da plateia, Charlie (Owen Wilson), e o pede em casamento. Embora tomado de surpresa, ele aceita.
Para o bem da carreira de Kat, seu empresário Colin (John Bradley) propõe que o casamento com Charlie se mantenha por alguns meses. Quando a mídia esfriar sua atenção, eles se separam. Mas, sendo esta uma comédia romântica hollywoodiana de raiz, é claro que Kat e Charlie se apaixonarão, apesar de todas as diferenças. Logo, a maior dúvida não é se a cantora aceitará retornar para o arrependido Bastian, pois o filme nunca o mostra como um parceiro confiável. A dúvida é se o filme conseguirá cozinhar esse romance por quase duas horas.
Movido a música
Os espectadores que são fãs de J.Lo se entusiasmarão com o filme, de qualquer forma. Afinal, o longa traz muitos trechos musicais com suas apresentações, em shows gigantescos ou em momentos íntimos. Curiosamente, o tema principal, “Marry Me”, é a mais fraca das canções da trilha musical, com seus versos e rimas infantilizados. Mas as outras não se distanciam do repertório da cantora em sua vida real e garantem a diversão para os apreciadores – e até para aqueles que não a seguem, pois são feitas para agradar já na primeira audição. Na verdade, Jennifer Lopez interpreta aqui um papel muito próximo de sua verdadeira pessoa, e o interpreta com um pé nas costas.
Já o ator cômico Owen Wilson se esforça para viver um divorciado comum, professor de matemática, que quer ser um bom pai para uma menina de doze anos, mas não consegue. É um personagem próximo do caricatural. Embora não muito velho, está ausente das redes sociais e totalmente desconectado dos interesses da filha. Sua segunda maior motivação, além da filha, é ser um ótimo professor. Fica até evidente demais que Charlie simboliza a essência da vida, em contraste com a badalação do mais bonito, mais rico e mais famoso Bastian. Assim, claro, ele despertará o melhor em Kat. Por outro lado, a pop star poderá ensiná-lo a ser menos rigoroso e se aproximar da filha.
Romance truncado
O desenvolvimento do romance patina no filme porque o obstáculo que impede que esse casal termine junto não parece muito convincente. Afinal, Kat não quer cometer “os mesmos erros de sempre”, como ela mesmo afirma. Então, só depende de Charlie aceitar que ele é merecedor do amor dela. Os trechos musicais contribuem para manter o interesse, apesar de alguns deles serem longos demais para quem não é fãs de J.Lo e Maluma, mas isso não movimenta o enredo. A solução, não muito feliz, foi inserir um concurso de matemática da turma do professor Charlie, que oportunamente inclui sua filha. O desfecho, assim, acontece na pouca empolgante final desse concurso; uma situação que já vimos em vários filmes.
Pelo menos, nos créditos finais, há uma surpresa, embora copiado de Harry e Sally (When Harry Met Sally, 1989), com vários casais contando como se conheceram. Ficamos, assim, com a sensação de que assistimos a um filme agradável, mas claudicante, típico da carreira da diretora Kat Coiro, uma especialista no gênero romântico. Seus últimos trabalhos para o cinema foram Um Caso de Amor (A Case of You, 2013) e Enquanto Houver Amor (And While We Were Here, 2012).
