Cazuza: O Tempo Não Para conta a história do vocalista do grupo de rock Barão Vermelho, com roteiro baseado no livro escrito pela mãe dele, Lucinha Araújo, muito presente na vida do cantor, e, por isso, no filme também.
Essencialmente, o longa-metragem apresenta Cazuza como uma figura extremamente carismática, que cativa as pessoas com seu jeito atrevido e sem nenhuma vergonha, mesmo antes de entrar para a banda. De fato, seu talento musical é natural e ele tem a sorte de o pai ser um executivo de uma gravadora. Apesar disso, os dois não se dão muito bem, e a mãe o superprotege. Então, como punição pelo comportamento arruaceiro do filho, seu pai o coloca para trabalhar junto com o produtor Ezequiel ‘Zeca’ Neves.
Eis que Cazuza e Zeca se identificam, tanto na homossexualidade, como na paixão pela música e no estilo de vida. Logo, o produtor assume as rédeas do Barão Vermelho e leva a banda ao sucesso. Após alguns anos, Cazuza resolve seguir carreira solo, para poder explorar outros gêneros além do rock. Depois, a parte final de Cazuza: O Tempo Não Para se dedica ao duro convívio do vocalista com a Aids.
Roteiro
Dessa forma, o roteiro flui num bom ritmo, focando em Cazuza e tendo como coadjuvantes principais os pais dele e o produtor Ezequiel Neves. Todos os demais personagens orbitam ao redor de Cazuza sem ganhar muita importância. Por exemplo, os membros da banda, inclusive o seu parceiro musical, o guitarrista Roberto Frejat, e os muitos amigos, alguns interpretados por atores famosos como Andrea Beltrão e Leandra Leal. Aliás, tem-se a impressão que o papel de Débora Falabella, interpretando a atriz Denise Dumont, foi limado na edição, pois ela aparece apenas brevemente dando uns amassos no cantor, nos bastidores de um show.
Em suma, a vida louca de Cazuza, repleta de sexo, álcool e drogas ganha um retrato próximo ao autodestrutivo. E, mesmo durante o tratamento da Aids com medicamentos, ele continuava a beber e se drogar. Apesar disso, ele se desespera quando recebe a notícia de que está doente, o que revela o seu grande apreço pela vida.
Análise
Em geral, as interpretações dos atores principais são convincentes, principalmente de Daniel de Oliveira como Cazuza. Contudo, entre os coadjuvantes, quem incomoda é o Roberto Frejat de Cadu Fávero. Não só por serem fisicamente muito diferentes, mas por não exibir algumas características marcantes que identificam a personalidade do guitarrista.
Adicionalmente, Cazuza: O Tempo Não Para peca no quesito visual. De fato, faltou capricho na fotografia em algumas cenas, principalmente noturnas, e, talvez pelo orçamento, na reconstituição dos shows, quase sempre com pouca plateia. Nesse sentido, a tentativa de mesclar materiais filmados pela TV Globo do gigantesco show do Rock In Rio com novas cenas gravadas para o filme não funciona. Afinal, são gritantes as diferenças do tamanho dos palcos e da qualidade das imagens. Definitivamente, o filme Bohemian Rhapsody, realizado catorze anos depois, viria a mostrar como fazer essa mixagem com primor, na sequência do show do Queen no Live Aid.
Por fim, o que sustenta Cazuza: O Tempo Não Para é o bom ritmo do roteiro, as sequências com as belas músicas de Cazuza e Barão Vermelho, além do carisma do vocalista, que consegue sobrepor-se aos defeitos do filme.
Ficha técnica:
Cazuza: O Tempo Não Para (Cazuza: O Tempo Não Para, 2004) Brasil. 98 min. Dir: Walter Carvalho, Sandra Werneck. Rot: Fernando Bonassi, Victor Navas. Elenco: Daniel de Oliveira, Marieta Severo, Reginaldo Faria, Andrea Beltrão, Leandra Leal, Emílio de Mello, Cadu Fávero, André Gonçalves, Arlindo Lopes, Dudu Azevedo, André Pfeffer, Maria Flor, Fernanda Boechat, Pierre Santos, Vitor Hugo, Débora Falabella.