Em Cecil Bem Demente, John Waters leva para as telas uma versão fantasiosa de si mesmo. O personagem-título, interpretado por Stephen Dorff, usa táticas de guerrilha para impor seu cinema independente de protesto contra a produção hollywoodiana contemporânea que só pensa nos retornos financeiros.
Waters mira aberrações como refilmagens de filmes europeus apenas para satisfazer o público norte-americano que não gosta de legendas, as inúmeras sequências em franquias, as adaptações de videogames etc. Por outro lado, homenageia a Hollywood do passado, a começar pelo título (trocadilho com Cecil B. DeMille), e passando pelos personagens com nomes de cineastas tatuados em seus corpos.
Na trama, Cecil B. Demente e sua trupe sequestram a estrela decadente Honey Whitlock (Melanie Griffith interpretando uma versão de si mesma) para usá-la no filme que eles estão rodando em Baltimore. Autoproclamando-se como cinema terrorista, o grupo invade locais públicos e privados, liga as suas câmeras e filmam Honey recitando ordens de protesto contra a indústria de Hollywood. No início, a atriz é forçada a participar dessas gravações, mas logo ela adere ao movimento (inclusive porque ela se beneficia com isso, tirando do limo a sua imagem pública desgastada).
Todas as piadas surgem dessa premissa. Muitas tentam agradar ao público cinéfilo, que se delicia com as várias homenagens e referências. Porém, John Waters coloca em ação o seu cinema escrachado, com personagens bizarros e um pé na grosseria (desta vez, nem tanto), que pode afastar esse espectador e restringir o filme somente aos fãs do seu cinema trash.
___________________________________________
Ficha técnica:
Cecil Bem Demente | Cecil B. Demented | 2000 | 87 min. | EUA, França | Direção: John Waters | Roteiro: John Waters | Elenco: Melanie Griffith, Stephen Dorff, Alicia Witt, Adrian Grenier, Lawrence Gilliard Jr., Maggie Gyllenhaal, Jack Noseworthy, Mink Stole, Ricki Lake, Patricia Hearst, Michael Shannon, Kevin Nealon, Roseanne Barr, Eric Roberts.