Videoclipe, boas piadas, e um pouco de mau gosto em “Cegonhas”
A Warner Animation acertou a mão com o lançamento de “Uma Aventura Lego”, em 2014, que foi um enorme sucesso. Por isso, nos cinemas, antes de “Cegonhas”, assistimos o curta “O Mestre”, da série Ninjago Lego; bem realizado, mas com uma história bem chatinha, sobre um duelo entre uma galinha e um mestre ninja.
A trama
O longa de animação “Cegonhas” brinca com a desculpa que os adultos usavam para explicar a origem dos bebês. Hoje, as crianças pequenas já sabem que eles vêm da “barriga da mamãe”, mas se costumava inventar que as cegonhas é que os traziam. O clássico “Dumbo” (1941), da Disney, trazia essa lenda em sua sequência inicial. Agora, o roteirista e co-diretor Nicholas Stoller parte deste princípio para contar como Nate, um menino, filho único, se sentindo solitário, envia uma carta à cegonha pedindo um irmão. Porém, ele desconhece que as cegonhas mudaram de ramo de atividade, e agora entregam celulares ao invés de bebês.
O negócio das entregas rápidas das cegonhas se tornou uma grande empresa muito rentável. A cegonha encarregada Junior ganha a oportunidade de se tornar chefe, desde que consiga primeiro despedir a menina Tulipa, a única bebê que as cegonhas nunca conseguiram entregar. Atrapalhada, a garota acaba sempre gerando prejuízo para a empresa e, agora, completando 18 anos, pode se dispensada. Mas Junior sente pena dela, e decide realoca-la para o inútil departamento de correspondências, sempre vazio.
Quando Tulipa recebe a carta com o pedido de Nate, com muito entusiasmo se dirige ao prédio principal para avisar Junior, e acaba destinando-a ao desativado setor de entrega de bebês. Quando o bebê chega para ser entregue, a empresa quer a todo custo evitar esse serviço, mas Junior e Tulipa fogem com ele para cumprirem essa missão. E começa a aventura, que percorre vários territórios e envolve perigosos lobos furiosos.
Tom pesado
“Cegonhas” possui um tom um pouco pesado em relação a seu humor, o que pode ser explicado pelo fato de seu criador Nicholas Stoller ser um especialista em comédias para adultos, como “Vizinhos 2” (Neighbors 2: Sorority Rising, 2016) e “Zoolander 2” (2016). Não é aquele estilo de “Shrek”, que consegue agradar adultos e crianças, ainda que estas não entendam algumas piadas. O que acontece em “Cegonhas” é a ausência daquela sensibilidade que conecta com o mundo infantil, que faz os adultos retornarem àquele período de sua vida, característica marcante das produções da Pixar.
Por isso, a personagem Tulipa soa um pouco rude. Não há problema em ela ser propositalmente chata, que irrita Junior, mas faz isso como aquela colega de trabalho com quem você prefere nunca conversar. Sendo ela um dos protagonistas da trama, isso acaba prejudicando a identificação do público. Felizmente, o bem-intencionado Junior é melhor construído e consegue carregar sozinho essa motivação.
Outra mostra do tom mais adulto em “Cegonhas” encontramos na turma de lobos que se juntam para formarem equipamentos. Por exemplo, um carro, um barco, um submarino. A ideia até que é boa, mas na tela, ver os lobos grudados nesses formatos dá uma má impressão, como se todos estivessem mortos e costurados juntos como um tapete feito de peles.
Divertido
Ainda assim, “Cegonhas” consegue divertir. Há piadas boas, a melhor delas a que os heróis lutam contra pinguins e todos se preocupam em não acordar o bebê. Além de eles evitarem gritar, mesmo quando são atingidos por um golpe, a trilha sonora, fortemente presente em todo o filme, é suprimida, proporcionando um interessante contraste, um inteligente uso do som não diegético.
Os filmes infantis sempre carregam uma mensagem. Em “Cegonhas”, é o alerta para os pais que se preocupam tanto em trabalhar que não se dedicam aos seus filhos. Esse tema é expressado diretamente nos diálogos. Natan tenta convencer seus pais a o ajudarem a preparar a casa deles para a chegada da cegonha. Mas é um nó não muito bem amarrado, porque descobriremos (e os personagens também) que nenhuma preparação era necessária. Afinal, as cegonhas fazem as entregas dos bebês pela porta da frente.
Numa sequência perto do final, a agradável música “Holdin’ Out”, do The Lumineers, embala cenas editadas em ritmo de videoclipe, praticamente usando toda a duração da canção. É um dos bons momentos nesse filme de animação cheio de altos e baixos.
Ficha técnica:
Cegonhas (Storks, 2016) 89 min | Direção: Nicholas Stoller, Doug Sweetland | Roteiro: Nicholas Stoller | Vozes de Andy Samberg, Katie Crown, Kelsey Grammer, Jennifer Aniston, Ty Burrell, Anton Starkman, Keegan-Michael Key, Jordan Peele, Danny Trejo, Stephen Kramer Glickman.