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O Beco do Pesadelo (filme)
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O Beco do Pesadelo

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

O Beco do Pesadelo é o segundo filme baseado no livro “Nightmare Alley”, de William Lindsay Gresham, originalmente publicado em 1946. Sua primeira versão cinematográfica é o contundente O Beco das Almas Perdidas (1947), dirigido por Edmund Goulding.

A adaptação de Guillermo del Toro deixa de lado algumas nuances simbólicas que Goulding incorporou em seu filme. Por exemplo, as três mulheres que afetam a vida do protagonista Stanton Carlisle não podem mais ser interpretadas como versões de uma mãe, uma amiga e uma amante (femme fatale). Porém, a diferença crucial, prejudicial à versão mais atual, sentimos na impossibilidade de vermos Stanton como uma pessoa essencialmente boa que se deixa corroer pela ambição.

Na primeira cena do filme de del Toro, Stanton (Bradley Cooper) incendeia uma casa com um cadáver lá dentro. A revelação de quem era o morto e o que acontece nessa situação virá ao longo do filme, nos flashbacks recorrentes do protagonista. Durante uma sessão de terapia, podemos deduzir que esse homem violentava Stanton quando criança, mas isso não fica expressamente confirmado. De qualquer forma, o personagem principal possui uma mancha no passado, e entra na história com esse peso. Isso explica seu caráter introspectivo quando visita e começa a trabalhar em um circo itinerante. E, durante os primeiros dez minutos, ele não fala sequer uma palavra.

No circo, ele conhece Zeena (Toni Collette), uma cartomante e adivinhadora que não pode mais realizar seu melhor número porque o marido Pete (David Strathairn) e companheiro de número se tornou um alcoólatra. Acidentalmente, Stanton mata Pete, e foge com Molly (Rooney Mara) para uma carreira de sucesso como adivinhadores. Numa cidade grande, propõe uma parceria com a psiquiatra Drª Lillith Riter (Cate Blanchett). Como ela grava suas sessões com seus pacientes, Stanton espera lucrar em cima dos segredos deles.

A ambição

Stanton usa as mulheres como escada para suas ambições. Rouba o número de adivinhação de Zeena. Ainda no circo, quer Molly em uma nova atração que ele cria. Por fim, Lilith pode ser sua aliada para conseguir enganar milionários fingindo ser um médium. Mas, a ambição é o verdadeiro mal que o corrói, e ela está presente desde o início, quando ele rouba o relógio do pai. Além disso, se deixa atrair por Lilith ao invés de escutar a mulher que realmente o ama.

Por causa dessa ganância, seu destino trágico está traçado desde sempre, o que fica insinuado nas formas circulares que sempre rondam Stanton. De forma sutil, del Toro chama a atenção para elas na cena em que Stanton e Molly ensaiam a nova atração com a cadeira elétrica. Nela, o anão pergunta: “Para que serve a roda girando aí atrás?”. E ele responde que é só enfeite. O círculo representa o ciclo vicioso que aprisiona o protagonista. Nesse sentido, o início e o final se juntam, pois em ambos Stanton está perdido após cometer um crime. Da mesma forma, ele agora assume o trabalho do “geek”, aquele que quase perde sua essência humana e se porta como um animal. Contudo, isso fica mais evidente no filme de Edmund Goulding.

Assim como ganha mais contundência a perdição do protagonista, cegado pela ambição. No filme de del Toro isso se perde porque Stanton já começa criminoso. Além disso, não o vemos no dilema entre continuar com o razoável sucesso do número de adivinhação e o golpe do médium fajuto. Aparentemente, o envolvimento sexual acaba dispersando a ideia da ambição como o motor de todos os seus atos.

O circo e a cidade

Por outro lado, a primeira parte do filme, que acontece dentro do circo, se apresenta como o ambiente habitual de Guillermo del Toro. Inseparável do gênero terror e fantasia, ele reforça nesse cenário seu gosto peculiar pelo estranho. Isso fica evidente no escritório do dono do circo, vivido por Willem Dafoe, por suas prateleiras repletas de vidros com fetos de diferentes espécies. Inclusive o de um monstruoso bebê humano não nascido que reaparece na cena final e, também, num mergulho nauseante durante os créditos finais. Curiosamente, talvez para não ferir o politicamente correto, ele evita a caracterização exagerada do “geek”.  

A segunda parte, que se desenvolve na cidade grande, poderia representar uma quebra do visual de fantasia que o filme apresenta até então. Porém, del Toro compensa isso pesando nas tintas dos cenários. Como era esperado, retorna o verde musgo que marcou tão fortemente seu filme anterior, A Forma da Água (The Shape of Water, 2017), vencedor do Oscar de melhor filme, direção, trilha sonora e desenho de produção. Além disso, aproveita os trechos de violência para algumas imagens gore, ainda que sem destacá-las excessivamente.

Contudo, O Beco do Pesadelo perde o foco do seu tema (o perigo da ambição desenfreada). Em certo momento, ele se desvia para a ideia de que o erro do protagonista foi mexer com as emoções dos seus clientes, que leva a um homicídio seguido de um suicídio, e ao afloramento de comportamentos abusivos do passado. Porém, se todos os esforços se concentrassem no processo de enlouquecimento pela ganância, o filme seria muito mais contundente.


O Beco do Pesadelo (filme)
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