A diretora Emma Seligman e a atriz Rachel Sennott tentam repetir em Clube da Luta para Meninas (Bottoms) a boa repercussão de Shiva Baby (2020). Mas a reunião dessa dupla talentosa não alcança resultado similar. Exageram na dose das piadas diretas e inesperadas que subvertem paradigmas. Caem na grosseria que toma conta das piadas inteligentes, até mesmo a violência surge como recurso apelativo.
O cenário manjado das comédias estadunidenses, o ambiente do ensino médio, ganha novas formas em Clube da Luta para Meninas. As protagonistas – PJ (Rachel Sennott) e Josie (Ayo Edebiri) – são duas garotas lésbicas que querem perder a virgindade. Mas os crushes delas parecem inatingíveis: as mais populares cheerleaders da escola, sendo que uma delas namora o melhor atleta da turma. Então, PJ e Josie têm a ideia de fundar um grupo de defesa pessoal, pensando que assim atrairiam meninas e conseguiriam realizar o objetivo de transar com uma delas. O plano é tolo, mas a trama mantém um tom de farsa, os acontecimentos não pretendem parecer reais.
Assim, logo o grupo descamba para um clube de luta, com as integrantes se machucando e gostando disso. Quando a estratégia parecia estar dando certo, até mesmo na improvável conquista de uma das cheerleaders, tudo descamba por causa de desavenças. A violência vai crescendo durante o filme, até atingir níveis absurdos. Parece bem apelativo o uso desse recurso, soa desespero das realizadoras para atingir o público, já sentindo que o humor ácido não estivesse forte o suficiente. E, de fato, aqui a comédia nunca fica engraçada como em Shiva Baby.
Sexo na elipse, piadas boas em segundo plano
Estranhamente, o filme fica acanhado em relação ao sexo. Nesse sentido, há bastante uso de baixo nível de palavras com conotação sexual, em especial quanto às genitálias. Porém, não encontramos nenhuma cena de sexo, a única que acontece na história fica subentendida na elipse. É claro que não existe obrigação de o filme apresentar essas cenas, mas aqui soa estranho que o tema seja tão priorizado na trama e nunca mostrado na tela.
Para não dizer que nada funciona, pelo menos as piadas em segundo plano, que acontecem no fundo, atrás dos personagens à frente, são engraçadas. Nesse ponto, a diretora acerta ao deixar rolar essas situações sem que as pessoas em destaque percebam o que se passa. A melhor delas é aquela em que o atleta da turma revela que estava fingindo sua contusão.
Mas isso não basta para salvar o filme. Em Clube da Luta para Meninas, Rachel Sennot assume a apelação da grosseria como único recurso para fazer rir. Quase uma Tatá Werneck americana.
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Ficha técnica:
Clube da Luta para Meninas | Bottoms | 2023 | 91 min | EUA | Direção: Emma Seligman | Roteiro: Emma Seligman | Elenco: Rachel Sennott, Ayo Edebiri, Ruby Cruz, Havana Rose Liu, Kaia Gerber, Nicholas Galitzine, Miles Fowler, Marshawn Lynch, Dagmara Dominczyk.