Clube Zero expõe os distúrbios alimentares e ataca de maneira incômoda, nauseante, os influenciadores que, muitas vezes, os provocam. Para isso, recorre ao extremismo, no enredo e na forma.
Para começar, as vítimas fazem parte de um grupo vulnerável, pois são adolescentes de uma escola de elite que se matriculam em um curso extracurricular sobre alimentação. Como não é uma disciplina obrigatória, aqueles que se inscrevem são os que já possuem algum problema ou os que estão especialmente sugestionáveis. A professora é a Srtª Novak (Mia Wasikowska, mais assustadora do que nunca), ela mesmo uma fiel seguidora da sua delirante filosofia. Segundo esta, chamada de alimentação consciente, as pessoas deveriam comer muito menos, pois assim seriam mais saudáveis.
No início, ao cortarem os excessos, os seus alunos alcançam melhorias. Porém, já geram desconforto em casa, com os pais que argumentam sobre a necessidade de se alimentarem bem. Piora muito mais quando a Srtª Novak defende a total abstenção de qualquer comida.
A diretora austríaca Jessica Hausner proíbe que o público fique indiferente diante de seu filme. No enredo, inclui até uma cena de uma aluna comendo o seu próprio vômito – a garota queria provar que conquistou total controle sobre suas vontades de ingestão de alimentos. E, no processo, os alunos adquirem uma aparência cada vez mais doentia, pálida e até com certa coloração esverdeada. Por fim, e não poderia nem ser diferente, tudo acaba em tragédia.
Controle artificial
Por outro lado, Jessica Hausner alinha esse tema à forma do filme. Assim, Clube Zero possui enquadramentos planejados com a maior precisão arquitetônica, elemento valorizado pelas linhas das construções das locações e dos cenários. As cores são fortes, dificilmente encontradas em situações reais. Com isso, as imagens refletem o controle artificial da filosofia da professora Novak – sua teoria supõe que seria possível suprimir as necessidades básicas do corpo humano. Em contraponto, uma trilha sonora com a percussão em primeiro plano fornece o estranhamento crítico sobre esse contexto anormal. Na estética, Hausner parece um Wes Anderson maldoso.
Ao que parece, a diretora estava pessoalmente movida pelo assunto. Clube Zero traz uma raiva latente, e quer não só criticar como agredir os manipuladores à solta por aí. Para ela, o fato de eles próprios acreditarem nas suas maluquices não representa nenhum atenuante para seus odiosos atos.
Clube Zero instaura um alerta contra esse perigo. Se não pegar o espectador pelo intelecto, pega pelo estômago (coitado daquele que for para a sala de cinema comendo uma pipoca…).
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Ficha técnica:
Clube Zero | Club Zero | 2023 | 110 min | Alemanha, Áustria, Catar, Dinamarca, França, Reino Unido | Direção: Jessica Hausner | Roteiro: Jessica Hausner, Géraldine Bajard | Elenco: Mia Wasikowska, Sidse Babett Knudsen, Amir El-Masry, Camilla Rutherford, Amanda Lawrence, Sam Hoare, Elsa Zylberstein, Keeley Forsyth, Mathieu Demy, Emily Stride, Szandra Asztalos, Florence Baker, Samuel D Anderson.
Distribuição: Pandora Filmes.
Assista ao trailer aqui.