Com Chiwetel Ejiofor e Anne Hathaway nos papeis principais, as filmagens de Confinamento (Locked Down) aconteceram durante a pandemia, em Londres. Mas, apesar de o cenário ser o lockdown causado pela Covid-19, a trama caminha para o heist movie.
Retrato do confinamento
Os primeiros momentos podem ser desestimulantes. Paxton (Ejiofor) conversa online com duas outras pessoas, e temos a impressão de que o filme inteiro será assim. Em outras palavras, parece que se trata de mais uma produção realizada dentro das limitações impostas pela pandemia. Talvez, esses filmes sejam apreciados no futuro, como registro desse período crítico da humanidade. Porém, hoje, são difíceis de assistir, pois poucos espectadores querem ver na tela o que já tem sido difícil vivenciar há mais de um ano.
Mas, depois, essa impressão vai se desfazendo, à medida que Paxton contracena em pessoa com Linda (Hathaway) na casa onde vivem. Os dois são um casal em processo de separação. Então, a trama se torna verborrágica, quase teatral, apesar de a filmagem procurar locais diferentes para as cenas. Primeiro, variando os cômodos, mas logo tomando, também, as ruas.
Heist movie
A questão da separação permite que aconteçam subtramas paralelas. Cada um lida com seus problemas profissionais separadamente. Ela, uma CEO de uma multinacional do varejo, e ele um motorista de van com ficha suja. De repente, a história começa a tomar outro rumo e o filme se volta, inesperadamente, para um ousado plano de um roubo milionário.
Essa mudança na trama acontece gradativamente, com a relutância dos dois protagonistas em praticar esse ato desonesto. Nesse sentido, tentam justificar o roubo com argumento racionais, como doar parte do valor para o SUS inglês.
Porém, a execução do plano não aproveita todo o suspense que poderia gerar. Por um lado, é gratificante que as filmagens saiam do lockdown e aconteçam em locações dentro da loja de departamentos Harrods. O que falta é um plano de roubo mirabolante, como de Onze Homens e um Segredo (2011). Além disso, haveria mais emoção caso os protagonistas corressem um risco maior de serem pegos durante o roubo.
Direção
No geral, a produção é competente. E, deve-se levar em conta que as filmagens aconteceram em apenas 18 dias dentro de condições restritivas. Para tudo dar certo, pesou bastante a experiência do diretor americano Doug Liman, que trabalha nessa posição desde 1994. Entre seus filmes, estão: A Identidade Bourne (2002), Sr. e Sra. Smith (2005) e Feito na América (2017).
Além de Chiwetel Ejiofor e Anne Hathaway, o filme conta ainda com vários nomes famosos em participações especiais. Por exemplo, Ben Kingsley, Ben Stiller, Lucy Boynton e Mindy Kaling.
Chiwetel Ejiofor
Em Confinamento, com exceção da primeira sequência com Chiwetel Ejiofor online, Lipman procura alternativas para registrar a vida em lockdown sem entediar o público. Por exemplo, mostra que a personagem de Anne Hathaway se veste profissionalmente somente da cintura para cima. A câmera espertamente evidencia a diferença entre o que ela aparenta nas reuniões online e a sua verdadeira pessoa. Abaixo do terninho chique, uma calça largona que só seu companheiro em casa pode ver.
O ator inglês Chiwetel Ejiofor é mais conhecido pelo papel principal de 12 Anos de Escravidão (2013). Porém, ele atua constantemente em filmes de grande produção. Entre seus últimos filmes, estão Malévola: Dona do Mal (2019) e The Old Guard (2020). Além disso, estreou como diretor em longa-metragem com O Menino que Descobriu o Vento (2019), após dirigir dois curtas.
Chiwetel Ejiofor se destaca em Confinamento por atuar dentro das restrições do lockdown. Devido a isso, precisa expressar suas emoções em várias cenas de encontros online, filmadas com câmera de computador. Ademais, a vocação poética do seu personagem o leva para as ruas vazias, onde declama poemas para os vizinhos que o assistem de suas janelas.
Anne Hathaway
Já Anne Hathaway filmou Confinamento apenas dez meses após dar à luz ao seu segundo filho. Aliás, a gravidez nunca a impediu de seguir sua carreira. A única pausa foi quando ela teve seu primeiro bebê, em março de 2016. A retomada veio pouco tempo depois, com Oito Mulheres e um Segredo, lançado em 2018.
Aqui, Hathaway consegue comunicar com eficiência a dividida personalidade de Linda. A CEO precisa apresentar uma faceta corporativa diferente da sua real pessoa, inclusive escondendo que mantém uma relação estável com um homem que tem uma posição social muito inferior. De fato, é ela que tem as principais partes dramáticas do filme. Como curiosidade, ela volta a andar de moto, vestida de preto, repetindo sua icônica imagem como a Mulher-Gato em Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012).
Transição
Por fim, o filme Confinamento se apresenta como uma obra de transição. O filme registra as restritas condições para se filmar durante a pandemia, levando para a tela a fase mais restrita do lockdown. Contudo, não se limita a isso. Afinal, com um inegável alívio, o filme revela como as produções voltam, gradativamente, às condições normais.
Ainda que não intencional, essa sensação de transição é a maior qualidade do filme.
