“Copenhagen”: viagem em busca do autoconhecimento
“Copenhagen” é o filme de estreia do jovem diretor (e roteirista) Mark Raso. Com baixo orçamento, compensado com uma alta dose de sensibilidade, Raso constrói um belo drama romântico com identidade própria.
Parte dessa singularidade surge das locações em Copenhagen, uma capital com ambiente escandinavo que ainda hoje mantém características que o diferenciam das demais cidades ocidentais. É lá que William (Gethin Anthony, que fez o Renly Baratheon de “Game of Thrones”) se desentende com seu amigo Jeremy (Sebastian Armesto), porque este começa a namorar Jennifer (Olivia Grant). Assim, estragando a viagem pela Europa que planejara ser de muita azaração.
A parada em Copenhagen possui um objetivo pessoal para William, que é o de entregar uma carta que seu recentemente falecido pai escreveu para seu avô. Acontece que este abandonou a família e o pai partiu para os Estados Unidos, e ambos nunca mais se viram. Para ajudá-lo nessa missão, William conta com a ajuda de uma garçonete que ele conhece. Ela é a dinamarquesa Effy (Frederikke Dahl Hansen), que se torna sua guia e intérprete. Juntos, visitam o endereço que consta no envelope, e conhecem o tio de William, que revela que o irmão se tornou um nazista. Mesmo chocado com a descoberta, ele resolve buscar seu avô. A jornada desperta fortes sentimentos entre a dupla, porém, a relação sofre um desajustamento quando Effy revela que possui apenas 14 anos.
Análise do filme
O filme transcorre em ritmo cadenciado, típico de um filme europeu (o filme é uma coprodução entre Canadá, Estados Unidos e Dinamarca). Dessa forma, desenvolve cada sequência em tempo quase real, para assim podermos acompanhar o aprofundamento da relação dos personagens transcorrendo naturalmente. Isso torna o desenvolvimento deles coerente, e a transformação pela qual passam reveladora.
Algumas metáforas são muito bem construídas e adicionam significado à narrativa. Por exemplo, a sequência na qual Effy se compara a uma estátua e William apalpa as duas faces simultaneamente volta mais tarde no tema da idade da garota. Com isso, mostra que se um busto de centenas de anos pode se assemelhar a um rosto de hoje, não há nada tão estranho em pensar que uma garota de 14 anos seja maior de idade.
Logo, Effy desperta em William o seu lado mais humano. Primeiro, ele consegue compreender o motivo de seu pai tê-lo abandonado. E, depois, desenvolve uma nova atitude perante as mulheres, não as vendo apenas como parceiras sexuais. O final mostra William no local comentado por Effy onde se encontram o Mar Báltico e o Mar do Norte. Então, ele se posiciona bem no meio dos dois mares, simbolizando o que a situação na qual os dois personagem se encontram. Ou seja, juntos, mas mantendo as suas características próprias.
Além disso, Mark Raso insere uma homenagem a “Jules e Jim” (1962), de François Truffaut, quando Effy passeia de bicicleta com William e Jeremy pelas ruas de Copenhagen, com bigode desenhado na sua face.
Viagem em busca do autoconhecimento
A filmagem realizada em locações e a interpretação muito naturalista de Frederikke Dahl Hansen, que realmente nasceu em Copenhagen, trazem um pouco do Realismo Italiano ao filme. Juntando isso ao ritmo tranquilo, com algumas aceleradas em aventuras nas noitadas, constroem-se os elementos que tornam “Copenhagen” uma experiência agradável com convites à reflexão. Então, como resultado, “Copenhagen” justifica a motivação de viajar em busca do autoconhecimento.
Ficha técnica:
Copenhagen (2014) | Canadá, Estados Unidos e Dinamarca | 98 min | Direção e Roteiro: Mark Raso | Elenco: Gethin Anthony, Frederikke Dahl Hansen, Sebastian Armesto, Christian Brandt, Thomas Buttenschön, Julie Christiansen, Mille Dinesen, Olivia Grant, Gordon Kennedy, Silja Eriksen Jensen, Hélène Kuhn, Tamzin Merchant.
Assista: entrevista com diretor e elenco de “Copenhagen”