Coração Ardente (Corazón Ardiente, 2020) mistura documentário e ficção dentro do gênero drama religioso. Por isso, conta com dois diretores. Um deles, Andrés Garrigó, é especialista em documentários religiosos e já realizou três longas com temas cristãos. O outro, Antonio Cuadri, tem em seu currículo oito filmes para cinema, e várias séries e produções para tv.
Assim, Garrigó se responsabiliza pelos trechos documentais e Cuadri dos ficcionais de Coração Ardente.
A narrativa ficcional é tênue. Mostra Lupe Valdés (Karyme Lozano), uma escritora de sucesso pressionada pela editora a entregar a sinopse de seu novo livro em até quinze dias. Seu chefe e amigo sugere que ela procure a jornalista Maria (María Vallejo-Nágera), que apresenta um programa sobre fenômenos misteriosos. Então, Maria lhe entrega um material sobre as aparições do Sagrado Coração de Jesus ao longo da história, incluindo eventos mais recentes.
É assistindo a esses vídeos que o filme Coração Ardente encontra a nada sutil brecha para exibir o documentário sobre esse tema, dirigido por Garrigó. Por fim, para fechar a jornada da protagonista Lupe, o enredo insere, na parte final, o personagem do seu pai, um homem que abandonou a família e que busca a redenção em seus últimos momentos de vida. Na conclusão, a pesquisa sobre seu novo livro ajuda-a a aceitar a reconciliação com seu pai.
Consagração
Acima da busca por uma narrativa ficcional empolgante (que o filme não consegue ser), essa produção espanhola possui como objetivo principal a doutrinação católica. De fato, os realizadores assim justificam a motivação para produzir o filme: “Queremos mostrar ao mundo o poder do amor. De um Amor Todo-Poderoso encarnado em um coração humano. Um coração que bate querendo derramar Sua felicidade em nossos corações.”
A embalagem ficcional serve como facilitador para os espectadores que não apreciam documentários. Ou seja, o seu público-alvo não é o católico já praticante, mas aqueles que ainda não abraçaram a religião. Aliás, o segmento que mostra famílias-modelo desse ideal comprova essa finalidade.
Mas, sem dúvida, a parte documental representa o principal elemento de Coração Ardente. O diretor mistura pesquisas históricas, com entrevistas de especialistas, e depoimentos de testemunhas e de fiéis, filmando em várias locações em diversos países. Com isso, entrega um abrangente a respeito da consagração do Sagrado Coração de Jesus.
Para quem já segue a religião católica fervorosamente, o documentário em si representa material mais do que suficiente para captar seu interesse. Principalmente porque a ficção aqui não sai da superficialidade.
Em suma, um bom documentário, mas uma fraca ficção.
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Ficha técnica:
Coração Ardente | Corazón Ardiente | 2020 | Espanha | 89 min | Diretor: Andrés Garrigó, Antonio Cuadri | Roteiro: Andrés Garrigó, Pedro Delgado | Elenco: Karyme Lozano, María Vallejo-Nágera, Carmelo Crespo, Yolanda Ruiz, Claudio Crespo, Pablo Viña, Ignacio Ysasi.
Distribuição: Kolbe Arte Produções | Magnificat Entretenimento.
