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Corra Querida Corra (filme)
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Corra Querida Corra

Avaliação:
6/10

6/10

Crítica | Ficha técnica

O cinema fantástico historicamente serviu de veículo para metáforas sobre temas que afligem a humanidade. Nos anos 1950, incorporou o medo da Guerra Fria, retratando em diversas formas os temidos efeitos de uma bomba atômica. O recente filme de terror e suspense Corra Querida Corra (Run Sweetheart Run) repete essa tendência. Desde o primeiro diálogo, deixa claro que lidará com o problema do machismo. Começa com uma crítica à desigualdade de gênero, mas eleva o tom até apresentar o machismo como o mal encarnado.

A direção de Shana Feste é irregular. No geral, funciona, principalmente nas cenas de ação. Mas Feste recorre ao descolamento do timing do som e da imagem, talvez para inovar, ou talvez para mostrar a confusão da personagem. Porém, isso mais atrapalha do que ajuda. Outra ousadia maior pode desagradar ou agradar o espectador, depende de como cada um recebe a inusitada quebra da quarta parede, quando o vilão olha para a câmera e evita que vejamos a violência, que fica, assim, no extracampo. Um outro maneirismo, esse lembrando as modernices de Edgar Wright, é a palavra “corra” que aparece estampado na tela em várias ocasiões. Esse é o quinto longa de Shana Feste, conhecida por ter feito a nova versão de Amor Sem Fim (Endless Love, 2014).

O roteiro opta por lidar com o tema do abuso sexual e do machismo tóxico com contundência. O tom exagerado lembra o que vimos em Bela Vingança (Promising Young Woman, 2021), de Emerald Fennell. Os temas estão onipresentes, desde o assédio dentro do ônibus, até a hierarquia no escritório de advogados, onde as mulheres são as secretárias dos sócios, todos homens.

Simbolismos

Todo a ação principal se desenrola numa só noite, quando um jantar de trabalho se torna um flerte e, daí, uma agressão. Então, Cherie (Ella Balinska) precisa fugir do agressor Ethan (Pilou Asbæk), que a persegue implacavelmente. Nesse processo, como em Um Drink no Inferno (From Dusk Till Dawn, 1996), de Robert Rodriguez, Corra Querida Corra transita de gênero. Começa como um thriller policial e depois se torna um slasher sobrenatural. A mudança é inesperada, mas não perde a coerência por conta das várias metáforas relacionadas ao tema do filme.

Um simbolismo forte é a menstruação de Cherie. O filme levanta esse ponto para criticar o velho tabu preconceituoso, principalmente no ambiente de trabalho. E, também, relaciona à questão sexual. No filme, o cheiro do sangue de Cherie atrai o predador Ethan, que assim pode localizá-la. Mas, na parte final, essa característica exclusivamente feminina serve como arma. “Seu sangue não é sua fraqueza, é sua força!”, diz uma fala do roteiro.

Outra frase que pede reflexão é a do vilão quando diz que as pessoas (os outros homens) querem que ele (o machismo como mal encarnado) exista. Com isso, aponta o dedo na direção daqueles que não querem que o status quo mude. Talvez, por isso, Ethan olhe diretamente para a câmera, se direcionando aos seus apoiadores. Outra metáfora é a luz do dia como seu ponto fraco, representando os movimentos como o metoo, que trazem à tona os abusos sexuais acobertados por tanto tempo.

Mas nem tudo funciona bem em Corra Querida Corra. Além das ousadias da diretora Shana Feste, alguns detalhes do roteiro não foram devidamente explorados. Por exemplo, o medo de cachorros de Ethan não tem explicação, e a aparição de uma cachorra (e de raça ainda) no meio de uma rua deserta de madrugada é um deus-ex-machina dos mais forçados. Além disso, a violência quase toda fora do quadro, e a ausência de momentos de suspense e sustos enfraquece o potencial emocional do filme.

De qualquer forma, essa produção da Blumhouse é muito bem-vinda nesses tempos em que o machismo tóxico continua uma luta em andamento.

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Ficha técnica:

Corra Querida Corra | Run Sweetheart Run | 2020 | 104 min | EUA | Direção: Shana Feste | Roteiro: Shana Feste, Keith Josef Adkins, Jellee Terrell | Elenco: Ella Balinska, Pilou Asbæk, Clark Gregg, Shohreh Aghdashloo, Dayo Okeniyi, Betsy Brandt.

Onde assistir:
Corra Querida Corra (filme)
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