Estreando na direção com Correndo Contra o Vento, o diretor alemão Jan Philipp Weyl teve a honra de ter seu filme escolhido pela Etiópia para disputar o Oscar de filme estrangeiro.
O enredo
A trama de Correndo Contra o Vento, baseada em acontecimentos reais, conta a história dos irmãos de criação Abdi e Solomon. Eles passaram a infância juntos em uma aldeia no interior da Etiópia, alimentando sonhos grandes. Abdi quer ser um corredor de maratona, e começa a treinar na escola. Já Solomon pensa em se tornar um fotógrafo, então, rouba a máquina de um professor e foge para a capital Addis Ababa. Lá, acaba virando morador de rua com outras crianças.
Quando se tornam adultos, suas vidas voltam a se cruzar. Abdi treina seriamente para as Olímpiadas e sua primeira vitória lhe dá um pequeno gosto da fama. Por outro lado, Solomon se envolve com uma gangue perigosa. Sua vida melhora com a ajuda de Abdi, mas esses malfeitores querem se aproveitar deles.
O diretor
O diretor Jan Philipp Weyl, que também atua no filme, no papel de Paul Reeb, revela que dois filmes o inspiraram nessa estreia: a coprodução indiana Salaam Bombay (1988) e o brasileiro Cidade de Deus (2002). Assim diz ele em entrevista para a Cinestaan:
“Eu tinha uma vaga noção sobre que tipo de primeiro longa-metragem eu gostaria de fazer. Ainda não tinha a história, mas tive a ideia de Correndo Contra o Vento em 2008. Naquela época, nos meus 20 anos, eu assistia e consumia o máximo de filmes possível. O primeiro filme que mudou minha vida foi Cidade de Deus. Eu quis me tornar um cineasta quando era bem jovem, porém, quando eu assisti a Cidade de Deus tive a certeza de que, realmente, queria me tornar um contador de histórias. Então, depois eu assisti a Salaam Bombaim. No final, as relações entre Correndo Contra o Vento e Salaam Bombay ficaram mais próximas do que com Cidade de Deus.”
De fato, o tema do sonho improvável de personagens humildes conecta o filme de Jan Philipp Weyl com essas duas produções. Aliás, no longa de Fernando Meirelles e Kátia Lund, a trama também conta a história de dois garotos pobres, e um deles se torna fotógrafo.
Análise
Quanto ao estilo, a direção de Jan Philipp Weyl traz o ritmo acelerado de Cidade de Deus, porém, no geral, Correndo Contra o Vento se enquadra no cinema clássico. A preferência por usar planos curtos é evidente e, sob certo aspecto, exagerada. Por um lado, essa opção resulta na agilidade da narrativa. Porém, como contraponto, elimina os momentos mais calmos que permitem a reflexão do espectador. Dessa forma, o filme não permite nenhuma abertura para o aprofundamento dos personagens.
No emprego da gramática fílmica, Jan Philipp Weyl é extremamente didático. O diretor se preocupa em deixar a narrativa facilmente compreensível para o público. Para isso, utiliza esses vários planos curtos, bem como colagens das rotinas que evidenciam algum processo. Por exemplo, o treinamento do atleta Abdi.
No entanto, identificamos dois momentos em que o cineasta se arrisca. Um deles é quando o amigo drogado de Solomon rasga o painel do gigantesco outdoor. Claramente, há simbolismo na imagem desse personagem marginal que se revolta contra a bela propaganda, tão contrastante com sua vida. Depois, o outro momento é a conclusão. Afinal, inesperadamente, o filme termina com um final aberto, que não revela o destino dos protagonistas.
Em suma, Correndo Contra o Vento se torna uma sucessão veloz de vários fatos na vida de dois personagens interessantes, mas que se mantêm à distância do espectador.
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Ficha técnica:
Correndo Contra o Vento (Running Against the Wind) 2020, Alemanha/Etiópia, 116 min. Direção: Jan Philipp Weyl. Roteiro: Jan Philipp Weyl, Michael Wogh. Elenco: Ashenafi Nigusu, Mikias Wolde, Joseph Reta Belay, Ferhane Beke, Alamudin Abduselam, Samrawit Desalegn, Yemariam Melkamu, Sintayehu Geremew.
Distribuição: A2 Filmes.
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