Corrente do Mal (It Follows) injeta originalidade no gênero terror, com uma trama bem simples, envolvendo uma maldição sobrenatural sexualmente transmissível. Simples, mas genial, pois o sexo sempre esteve presente nesses filmes, vide Sexta-Feira 13, só como exemplo bem evidente. E é uma abordagem que consegue gerar discussões sobre moralismo, liberdade sexual, religião e outros temas, criando certo simbolismo para o enredo.
Aliás, a qualidade do filme não se concentra somente na sua história. A realização também merece elogios. Com exceção de uma cena, Corrente do Mal foge do manjado recurso dos sustos para aterrorizar. Essencialmente, o medo provém do clima. Nesse intuito, o espectador é exposto a uma imagem horrenda, logo no início, de uma das vítimas morta com o joelho quebrado. Posteriormente, não há mais apelação para o gore, e nem precisa, porque quem assiste já sabe o que a maldição pode provocar.
De fato, nem mesmo as aparições possuem visual exagerado. São medonhas, claro, porém, sem extrapolar e cair no escatológico. Por exemplo, na sequência da piscina, o ente que ataca a mocinha aparenta uma pessoa comum, apenas pálida. A imaginação do espectador é que acaba gerando o terror maior.
Suspense
Existe suspense no filme, criado pela incerteza das vítimas em entender como funciona essa maldição e, até mesmo, se ela existe de fato ou é só paranoia da protagonista Jay (Maika Monroe). Os planos para acabar com a perseguição também provocam ansiedade, pois somente com o desenrolar da trama se poderá descobrir se funcionam.
Após uma transa com Jeff (Jake Weary), Jay passa a ser perseguida por aparições, que podem matar se conseguirem tocá-la. Segundo Jeff, ela deve se livrar da maldição através de uma relação sexual, transmitindo-a para outro. Contudo, essa corrente pode voltar para trás quando uma aparição consegue matar sua vítima.
A trilha sonora possui papel fundamental na construção desse clima tenebroso. Utilizando sintetizadores, a música remete a John Carpenter, diretor de Halloween: A Noite do Terror (Halloween, 1978) e O Enigma de Outro Mundo (The Thing, 1982), que era o próprio compositor de seus filmes. Aqui, esse papel coube a Rich Vreeland.
Vale a pena acompanhar os próximos passos da carreira do aqui diretor e roteirista David Robert Mitchell. Este é apenas seu segunda longa metragem – seu filme anterior foi The Myth of the American Sleepover (2010), inédito no Brasil – e já mostra talento. Ele apostou em várias sequências filmadas com planos longos, sem cortes, em Corrente do Mal, com uma intenção narrativa inteligente. Aliás, esse recurso envolve a técnica chamada de “following”, e segue a ação ou o personagem na cena. Ou seja, numa alusão à maldição da história, mais evidente ainda considerando o título original em inglês, “It Follows”.
Ficha técnica:
Corrente do Mal (It Follows, 2014) 100 min. Dir/Ror: David Robert Mitchell. Com Maika Monroe, Keir Gilchrist, Olivia Luccardi, Lili Sepe, Debbie Williams, Jake Weary, Daniel Zovatto, Linda Boston, Claire Sloma, Joanna Bronson, Ele Bardha.
Assista: Maika Monroe e Daniel Zovatto falam sobre “Corrente do Mal”
Assista: entrevista com David Robert Mitchell