“The Myth of the American Sleepover”: O rito da passagem adolescente em formato Altman
Este é o filme de estreia do diretor e roteirista David Robert Mitchell, que depois realizaria o elogiado terror “Corrente do Mal” (It Follows, 2014). Seu assunto, o “sleepover” do título, se refere ao costume nos Estados Unidos de adolescentes se juntarem para passarem a noite fora, dormindo em turmas separadas por sexo na casa de um amigo ou em outro lugar, como o ginásio da escola, quando o evento é chamado de “lock-in”. Tradicionalmente, o “sleepover” é um rito de passagem importante para o adolescente, marcando uma experiência de autosuficiencia, longe dos pais.
O formato de “The Myth of the American Sleepover” remete a um Robert Altman de adolescentes, constituído por várias estórias simultâneas concentradas em menos de 24 horas. Os relatos se alternam e se concentram em alguns dos personagens, mas sem se restringir somente a um ou dois protagonistas. Tudo acontece em um bairro determinado, portanto os garotos e garotas se conhecem. E eles percorrem as ruas da região antes e durante a noite do “sleepover”, sentindo-se livres para novas aventuras.
A world apart
Os adolescentes se sentem como se o mundo fosse só deles. De fato, os poucos adultos que aparecem são mostrados somente como figurantes, o que coloca o espectador dentro desse universo juvenil.
O diretor David Robert Mitchell demonstra talento ao privilegiar tomadas estáticas, sem muito uso de movimentação da câmera. Dessa forma, evidencia o formato da estória, ou seja, recortes das aventuras dos personagens. Ele reserva o movimento da câmera para a cena essencial onde o garoto encontra a menina loira que viu à tarde no supermercado e por quem se apaixonou, após procurar a noite toda. A câmera sai do garoto e acompanha o som que ela emite até mostra-la. A desilusão do menino que idealizou a musa que não conhece de fato será a construção de seu amadurecimento na noite de “sleepover”.
“The Myth of the American Sleepover” possui seu charme por possuir uma fotografia que nos liga a memórias juvenis. Em outras palavras, cenas largamente filmadas no crepúsculo, quando a iluminação natural providencia cores poéticas. A sequência com música pop ao fundo, por volta dos 20 minutos do filme, evidencia essa característica.
Outro aspecto que facilita a identificação do público com o tema é a utilização de nomes desconhecidos no elenco. Com isso, o filme evita o distanciamento que uma celebridade carrega por sua própria fama. Além disso, coloca os personagens em níveis iguais de importância, como propõe o roteiro.
Dessa forma, apesar de ser construído em cima de uma tradição estadunidense, o tema de “The Myth of the American Sleepover” toca um tema universal. Ou seja, as marcantes experiências que nos transformam em adultos.