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Poster de "Correntes Ocultas"
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Correntes Ocultas

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

O sexto longa-metragem de Vincente Minnelli, Correntes Ocultas (Undercurrent), é o seu único filme de suspense. Até então um diretor de comédias e musicais, Minnelli recorre à iconografia do film noir, notoriamente quando um abajur cai no chão e cria sombras ameaçadoras de um personagem suspeito. Porém, deixa detalhes feios no enquadramento que seu olhar caprichoso não costuma permitir. Nesse sentido, note o lustre no meio do quadro, obstruindo a imagem da protagonista vivida por Katharine Hepburn, na cena em que ela arruma as flores que recebeu em sua casa. Em contraponto, o cineasta mostra seu toque em vários momentos, como na fogueira atrás de Katharine Hepburn, quando ela se apaixona por alguém pela primeira vez na vida. Ou o uso recorrente de espelhos.

Comédia e suspense

Nada impede que Minnelli construa um forte clima de suspense no segundo terço do filme. E uma divertida comédia na primeira parte, quando conhecemos Ann (Katharine Hepburn), cheia de confiança na casa dos pais (a mãe morreu há três anos) numa cidadezinha pequena. Uma das suas diversões é dispensar as investidas românticas de um vizinho. Vestindo calças e camisas do dia-a-dia, ela fala como uma metralhadora e deixa claro que não é uma daquelas mocinhas que só pensam em casamento. Hepburn, aliás, faz muito bem esse tipo, como prova Levada da Breca (Bringing Up Baby, 1938), de Howard Hawks.  

Mas sua independência desaba quando ela conhece o bem-sucedido empresário Alan Garroway (Robert Taylor), celebrado nacionalmente como o inventor de uma engenhoca que foi fundamental na guerra contra os nazistas. Os dois logo se casam e se mudam para Washington. Lá, Ann não é mais a confiante moça da pequena cidade. Pelo contrário, se sente totalmente deslocada na festa que o seu marido prepara para apresentá-la para um refinado grupo de 40 amigos. Daí para frente, a insegurança de Ann só aumenta, num processo que lembra o gaslighting do filme de Hitchcock que deu origem ao termo*. De fato, parece estranho que o marido não tenha comprado um vestido à altura para Ann em sua festa de apresentação.

E as coisas pioram para Ann, pois Alan revela um comportamento agressivo, sempre que o assunto é Michael, o seu misterioso irmão que está desaparecido. À revelia, Ann começa a investigar sobre essa pessoa, e o filme vai ficando cada vez mais intenso. As suspeitas parecem levar a um assassinato, o que acende o sinal de alerta de perigo.

Final fraco

Contudo, no terço final o filme perde força. Parte do mistério sobre Michael desaparece porque o ator que o interpreta é óbvio demais. O vilão tem segredos obscuros a esconder e uma bipolaridade evidente, pois a maldade está presente dentro do seu ser. Porém, ele fica menos ameaçador com a tentativa de humanizá-lo, pois seu amor, no final das contas, é verdadeiro. O incidente inesperado, deus ex machina, do roteiro, além disso, soa bem forçado – faltou criar talvez uma aversão do cavalo em relação ao vilão, ou uma afeição em relação à vítima.

Correntes Ocultas, assim, é muito bom, seja como comédia, seja como romance, até o terço final. Este, apesar de falho, ainda mantém o público intrigado em conhecer como acabará essa estória. Film noir não é a especialidade de Minnelli, mas ele se sai bem e poderia render melhor com um roteiro mais afiado.

*À Meia-Luz (Gaslight, 1944)

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Ficha técnica de “Correntes Ocultas”:

Correntes Ocultas | Undercurrent | 1946 | 116 min | EUA | Direção: Vincente Minnelli | Roteiro: Edward Chodorov | Elenco: Katharine Hepburn, Robert Taylor, Robert Mitchum, Edmund Gwenn, Marjorie Main, Jayne Meadows, Clinton Sundberg, Dan Tobin, Kathryn Card, Leigh Whipper.

Homem, mulher e cachorro à frente de uma lareira.
Cena de "Correntes Ocultas"
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