Correspondente Estrangeiro (Foreign Correspondent) deve ser analisado à luz dos acontecimentos ao seu redor. A Segunda Guerra Mundial tinha se iniciado, resultando na imigração de profissionais do cinema para os Estados Unidos. Alfred Hitchcock acabava de estrear na indústria de Hollywood, medindo forças com o produtor David O. Selznick na realização de Rebecca, a Mulher Inesquecível (Rebecca, 1940). Não é surpresa, então, que seu segundo filme norte-americano tenha como tema essa guerra, tema que se tornaria recorrente em sua filmografia.
A influência do expressionismo alemão, fortemente presente na fase inglesa de Hitchcock, marca também essa produção estadunidense. Nesse sentido, a emocionante sequência dentro do moinho de vento na Holanda destaca elementos como as escadas, as sombras, e a arquitetura que enfatiza ângulos e inclinações, tal qual no cinema alemão antes da guerra. A mise-en-scène é ideal para o diretor inglês explorar o suspense, pois o protagonista John Jones (Joel McCrea) está à espreita testemunhando um crime que pode acelerar a decretação da guerra. Além de se esgueirar para não ser visto, em certo momento seu sobretudo engancha nas engrenagens do moinho, o que pode revelar sua presença no local. São vários os momentos, não só nesse trecho, como em outros, que destacam a capacidade de comunicação visual de Hitchcock. Vale mencionar, também, a fuga do assassino do alto, movimentando-se em meio a numerosos guarda-chuvas.
Filme-catástrofe
O miolo do filme é a sua parte mais fraca. As artimanhas de Jones e seu aliado Scott ffolliott (George Sanders) para descobrir o paradeiro do político que foi raptado não empolgam. O McGuffin de Hitchcock, o motivo que move a narrativa, desta vez demora muito para se desenrolar e, por isso, deixa às mostras suas fragilidades. Porém, apesar do enredo, o espectador não se aborrece por conta das engenhosidades visuais do diretor, mesmo as mais simples, e do seu humor britânico aqui e ali.
A parte final surpreende, e eleva o filme novamente. Logo estamos diante de um filme-catástrofe, quando o avião que leva os protagonistas é bombardeado por um navio alemão. Parece até o prelúdio para Um Barco e Nove Destinos (Lifeboat, 1944), outra produção sobre a guerra dirigida por Hitchcock. A conclusão se alonga um pouco demais, a fim de inserir uma mensagem a favor do intervencionismo dos EUA no conflito mundial.
Embora irregular, Correspondente Estrangeiro possui seus charmes, por conta do apuro visual de Alfred Hitchcock.
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Ficha técnica:
Correspondente Estrangeiro | Foreign Correspondent | 1940 | 120 min | EUA | Direção: Alfred Hitchcock | Roteiro: Charles Bennett, Joan Harrison, James Hilton, Robert Benchley | Elenco: Joel McCrea, Laraine Day, Herbert Marshall, George Sanders, Allbert Bassermann, Robert Benchley.