Em Cry Macho: O Caminho para a Redenção, Clint Eastwood quebra a série de filmes baseados em eventos reais que dominou sua filmografia desde 2011. Desta vez, ele adapta o livro de N. Richard Nash, que assina o roteiro ao lado de Nick Schenk.
Eastwood interpreta Mike Milo, um ex-campeão de rodeio que afoga nas bebidas suas mágoas pelo afastamento das competições e pelas mortes de sua esposa e de seu filho em um acidente. Certo dia, seu ex-patrão lhe pede para ir ao México para um favor particular. Mike deve trazer para o Texas o menino de 13 anos Rafa (Eduardo Minett), o filho do ex-patrão com uma mexicana. Essa é a única forma de tirar o garoto do mau caminho que ele está seguindo no submundo das brigas de galos.
Road movie
Essa é a trama principal que move Cry Macho: O Caminho para a Redenção. Mas, as cenas de ação que esse enredo permite assumem papel secundário nesse road movie. De fato, elas são em menor quantidade e intensidade do que em A Mula (2018), penúltimo filme dirigido por Eastwood antes deste. O essencial aqui é acompanhar a sutil adaptação do protagonista a uma nova oportunidade que surge em sua vida.
Uma das preocupações do pai de Rafa, compartilhadas por Mike, seria a resistência do garoto em partir para o Texas a fim de viver com o pai que ele mal conhece. No entanto, esse conflito não existe, pois Rafa logo se anima em sair da casa da mãe, que o negligencia e o castiga, através de seus seguranças. Assim, o único obstáculo para Mike cumprir a sua missão é fugir do segurança que trabalha para a mãe de Rafa, e outros eventos fortuitos, como o roubo do carro. Contudo, as cenas de ação não são o forte deste filme, principalmente porque o vilão é facilmente derrotado por Macho, o galo de briga de Rafa.
Macho
Aliás, o termo “macho” dá margem a algumas divagações de Mike sobre sua vida, e que também reflete na de Clint Eastwood. Para o personagem, ser machão remete ao tempo em que ele era o corajoso caubói de rodeio, que se orgulhava por desafiar o perigo. Porém, agora ele compreende que aquela atitude já não é tão apreciada. Na verdade, vale mais ser gentil, como ele age em relação a Rafa, e, em especial, a Marta (Natalia Traven), a dona de um restaurante que os acolhe. Da mesma forma, a carreira do próprio Eastwood se insere nessa mudança. Ou seja, ele não precisa mais ser o violento Dirty Harry, e pode fazer filmes como Cry Macho: O Caminho para a Redenção, onde ninguém mata ninguém.
Por outro lado, a velhice parece incomodar Clint Eastwood. Tanto aqui, como no filme anterior em que ele também atuou, seu personagem é chamado, depreciativamente, de “tata” (como se fosse o tataravô).
Destino
Assim, a trama principal de Cry Macho: O Caminho para a Redenção é a busca por uma melhor opção do que a vida sem propósito que Mike assumiu após abandonar os rodeios e perder a esposa e o filho. Nesse sentido, ele encontra essa outra via, mais pacata, ao lado da também viúva Marta, após Rafa reacender seu instinto paternal. Na pequena cidade mexicana, a comunidade complementa esse cenário com uma nova função para Mike: cuidar dos seus animais, em cena que lembra Médico e Amante (Arrowsmith, 1931), de John Ford.
Por fim, Cry Macho: O Caminho para a Redenção se enquadra no neo-western, ou seja, um filme com características de faroeste que se passa nos dias atuais. Nesse sentido, o aproximamos de outro filme de John Ford, Rastros de Ódio (The Searchers, 1956). Afinal, Mike Milo e Ethan Edwards (personagem de John Wayne nesse filme) têm a missão de resgatar um(a) jovem. Porém, o amor da vida de ambos, coincidentemente ambas com o nome Marta, representam destinos diferentes. Para Edwards, o passado que ele deixa definitivamente para trás; para Milo, sua escolha para seus anos futuros.
Direção e roteiro
N. Richard Nash escreveu o roteiro original de Cry Macho: O Caminho para a Redenção, mas ninguém se interessou em comprá-lo. Então, o transformou em um romance e publicou o livro em 1975. Seu enredo não é muito empolgante, mas Clint Eastwood construiu um protagonista ímpar num momento especial de retomada de sua vida – e com muitos pontos em comum com esse grande ator e diretor, que há tempos atingiu um patamar muito além do “macho”.
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Ficha técnica:
Cry Macho: O Caminho para a Redenção | Cry Macho | 2021 | EUA | Direção: Clint Eastwood | Roteiro: Nick Schenk, N. Richard Nash | Elenco: Clint Eastwood, Eduardo Minett, Natalia Traven, Dwight Yoakam, Fernanda Urrejola, Brytnee Ratledge, Horacio Garcia Rojas, Paul Lincoln Alayo, Amber Lynn Ashley, Ana Rey, Alexandra Ruddy.
Distribuição: Warner.