De Férias da Família (filme) ameaça apresentar uma interessante atualização sobre a inversão dos papéis de um casal. O patriarcalismo se tornou obsoleto e Sonny (Kevin Hart) personifica essa mudança. É ele quem cuida dos dois filhos e participa das atividades na escola deles, enquanto a sua esposa Maya (Regina Hall) se dedica a sua ascendente carreira de arquiteta. Se o filme seguisse essa linha, poderia ser divertido e até relevante para aparar os tabus sociais que ainda persistem em resistir a esse modelo que já é realidade em muitas famílias.
Contudo, o roteiro não se concentra nessa narrativa, e atira para todos os lados. Com uma péssima pontaria.
Para começar, o evento que balança esse status quo é o fato de Maya notar que nem sabia que a filha estava estudando mandarim. Para ela, serve como alerta para o quanto ela se distanciou dos filhos por causa do trabalho. Então, para mudar isso, ela resolve viajar com as crianças sozinha, sem o marido. O filme não se preocupa em contextualizar adequadamente esse motivo. Mas, a trama começa assim mesmo, aos tropeços.
Entra a comédia
Enfim, esta é a deixa para a trama investir na comédia, focando no que Sonny fará com seu tempo livre (o seu “me time” do título original). O longa-metragem aposta na desastrada busca dele por reviver a possibilidade de se divertir sem se preocupar com os filhos. As suas opções vão do óbvio clube de strippers a uma comilança exagerada num churrasco (mas ele não podia fazer isso com os filhos?), um nada divertido jogo de golfe com senhoras idosas e, se masturbar vendo um filme pornô em seu quarto. Porém, nada dá certo, e serve para arriscar no humor escatológico de um surto de vômito, além de outras piadas bobas. E as coisas não melhoram (nem para o filme nem para o personagem) quando ele se reconecta com seu melhor amigo Huck (Mark Wahlberg), que continua solteirão aos 44 anos agindo irresponsavelmente como se ainda fosse um jovem adulto.
Com essa ideia de atirar para todos os lados, De Férias com a Família se torna esquizofrênico. Não define qual público quer conquistar, alternando entre ser um filme para toda a família e uma comédia apimentada no estilo American Pie (1999). Dentro da dramédia familiar, cria um forçado conflito de Sonny, antes apresentado como um pai exemplar, com seu filho porque exige que ele treine para tocar teclado e cantar no show de talentos da escola (pois é, tem ainda esse clichê da apresentação na parte final). Mas, ao lado desse “momento ternura”, o filme traz também as citadas escatologia do vômito e masturbação, além de outras piadas sujas.
Não há nada que se salve nessa comédia que reúne Kevin Hart e o diretor/roteirista John Hamburg, que trabalharam juntos em Quero Ficar com Polly (Along Came Polly, 2004). Desta vez, a dupla não funcionou: deu bug no algoritmo da Netflix.
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Ficha técnica:
De Férias da Família | Me Time | 2022 | 1h41 | Direção e roteiro: John Hamburg | Elenco: Kevin Hart, Mark Wahlberg, Regina Hall, Jimmy O. Yang, Luis Gerardo Méndez, Che Tafari, Amentii Sledge, Diane Celanto, Andrew Santino, Michelle DeShon, John Amos, Anna Maria Horsford, Shira Gross, Seal.
Distribuição: Netflix.
