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Poster do filme "De Pai para Filho"
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De Pai para Filho

Avaliação:
8/10

8/10

Crítica | Ficha técnica

A premissa de De Pai para Filho dá a impressão de se tratar de uma típica comédia com um fantasma que permanece no mundo dos vivos para uma missão importante. Mas o filme constantemente flerta com o melodrama, que acaba assumindo a posição de gênero predominante.

Este é o segundo longa de ficção de Paulo Halm. Antes, fez Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos (2009), que ele escreveu e dirigiu. Halm repete essa dupla função em seu novo filme. Enquanto mostra competência na direção, cria um roteiro genial, que vai aprofundando os dramas dos personagens camada a camada, durante o desenrolar do enredo. Como, de fato, acontece quando conhecemos as pessoas.

E o filme trata disso. Os protagonistas se conhecem dentro da trama, inclusive no caso de José (Juan Paiva) e seu pai Machado (Marco Ricca), por mais estranho que isso possa parecer. Acontece que os dois não se veem há 20 anos. Líder de uma banda de rock nos anos 1980, Machado abandonou a família para embarcar em uma turnê de retorno e nunca mais voltou para casa. Acrescentando mais uma dose de estranheza, Machado tenta se suicidar mas morre acidentalmente. E reaparece na vida de José na forma de um fantasma.

José, por sua vez, mora em Araraquara, e se muda temporariamente para o apartamento do pai no Rio de Janeiro para tentar vendê-lo. Lá, ele conhece a jovem viúva Dina (Miá Mello), que tenta inutilmente superar o luto com encontros via aplicativos e bebedeira, e sua filha adolescente Kat (Valentina Vieira), uma pianista prodigiosa que era aluna de Machado.

Nas profundezas

O desfecho é previsível, mas o que importa é como se chega até ele, o que acontece de forma surpreendente dolorosa. A mágoa de José se justifica além do abandono, pois ele dedicou dois de seus últimos anos cuidando sozinho da mãe, que morria de câncer. E essa dedicação resultou ainda numa inexperiência sexual que raras vezes foi tratada com tanto carinho como neste filme. Geralmente, isso leva a piadas tolas. O próprio Machado entra nessa e a resposta de José é desconcertante, inclusive para o espectador. Aliás, há um conflito geracional muito perspicaz entre o pai, com seu viés machista dos anos 80, e o filho, que trata as mulheres com muito mais respeito.

Por falar nisso, as duas protagonistas também são personagens sólidas. A viúva Dina adotou um comportamento inconsequente porque se sente culpada pela tragédia que levou seu marido à morte. Os detalhes só são revelados no final, em um flashback. Já a sua filha Kat possui uma maturidade providencial para a trama, se tornando a principal responsável por aprumar as vidas sem rumo da mãe e de José.

O diretor Paulo Halm, acima de tudo, é um roteirista com muita experiência. Autor dos roteiros de Pequeno Dicionário Amoroso (1997 e 2015), Guerra de Canudos (1997), Dois Perdidos Numa Noite Suja (2002), e tantos outros filmes, escreve em De Pai para Filho diálogos que soam autênticos. Principalmente nas acareações entre dois personagens, as falas parecem francas exteriorizações dos conflitos que os afligem. José, por exemplo, tem a oportunidade de dizer para o pai tudo o que guardou durante duas décadas.

Inesperadamente pesado

O elenco está magnífico. O veterano Marco Ricca parece muito à vontade no papel com um toque de caricato do ex-músico de rock. Juan Paiva tem a oportunidade de encarnar um personagem bem mais profundo do que o Buchecha retratado em Nosso Sonho (2023). E entrega uma atuação envolvente. Miá Mello consegue alternar as várias facetas de Dina, sempre convencendo. E, por fim, a jovem Valentina Vieira se destaca como a esperta Kat, esbanjando carisma.

Quase tudo funciona à perfeição em De Pai para Filho. Até a arriscada decisão de não mostrar o possível assédio que Dina teria sofrido no encontro com o date careca, que poderia desviar o tema do filme para essa bandeira, já que uma cena anterior mostrara um médico tentando se aproveitar dela. Porém, o trecho em que Dina se desespera quando nada parece funcionar na sua casa (assim como na sua vida), levando-a a dizer “Eu mereço!” debaixo do chuveiro quebrado, resulta numa indesejada comicidade. Afinal, como a sequência prova, este é um momento de enorme dramaticidade, o fundo do poço para a personagem. E, da mesma forma, ficou esquisita a questão do piano, que José primeiro promete dar para Kat, mas depois oferece para os compradores do apartamento. Sendo que, por final, o instrumento acaba na casa de Dina e sua filha.

Porém, esses detalhes não estragam o belo, e surpreendente pesado, melodrama De Pai para Filho, que o trailer erradamente vende como uma comédia leve.

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Ficha técnica:

De Pai para Filho | 2024 | Brasil | Direção: Paulo Halm | Roteiro: Paulo Halm | Elenco: Juan Paiva, Marco Ricca, Valentina Vieira, Miá Mello, Sérgio Medeiros, Thiago Fragoso, Tati Villela, Pedro Cupido, Pablo Sanábio, Fabrício Santiago, Xando Graça, Charles Fricks, Marcos França.

Distribuição: ArtHouse e Filmes do Estação.

Trailer:

Trailer de “De Pai para Filho”
Cena do filme "De Pai para Filho"
Cena do filme "De Pai para Filho"
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