Quarto filme escrito e dirigido por André Borelli, Descascado trafega pelo cinema experimental. Ou, pelo menos, é o que sentimos quando o filme utiliza dezoito minutos repetindo a rotina diária do seu protagonista Breno (Pablo Diego Garcia). Aliás, uma rotina patética, na qual ele nunca sai de casa, trabalha online no mercado acionário, e se alimenta e se exercita para ficar musculoso. Como diversão, se masturba vendo filmes pornôs sentado à mesa de jantar.
A disciplina rigorosa autoimposta sobrepuja sua capacidade de perceber que se transformou num ser mecânico, como o personagem de Charles Chaplin em Tempos Modernos (Modern Times, 1936). Esse filme mudo, que ele assiste sempre durante suas refeições, parece uma alusão a essa apresentação nada econômica do protagonista, sequência inteira sem falas e em preto e branco.
Então, surge Verônica (Marcela Gibo), moradora do mesmo prédio que bate à porta de cada condômino para convidar a conhecer sua quitanda de produtos orgânicos. Breno, isolado em seu apartamento, sem ver nenhuma outra pessoa, imediatamente reconhece Verônica como a mulher de seus sonhos. Sua empolgação é tanta que o impele a sair às ruas para vê-la novamente na quitanda. Em pouco tempo, os dois acabam na cama. Mas, o despreparado Breno se desilude quando a flagra com outro homem, e sua resposta será violenta.
Mais do que antissocial, a rotina solitária do rapaz o transformara em um misantropo. E seu doentio comportamento explode após a desilusão amorosa. Se o acompanhamento da rigorosa disciplina diária já o aproximava de um monstro, agora isso se evidencia com closes muito próximos que distorcem suas proporções.
Redundante
Porém, o filme extrapola na comunicação de suas intenções. Os planos e as sequências exageradamente longos desperdiçam esforços para explicar o que já está evidente. Os dezoito minutos iniciais, a retomada da rotina, a série de crimes iguais etc., são redundantes e parecem desprezar a capacidade do espectador.
Sob outro aspecto, Descascado não se decide entre o drama, o suspense e, até mesmo a comédia. A reiteração exagerada de cenas, e, principalmente, a trilha sonora em desacordo com as imagens em tela deixam em aberto o tom do filme. A sua história em si é simples, mas a adaptação para as telas procura, desnecessariamente, complicá-la. A crítica ao comportamento do protagonista, no entanto, é sempre válida.
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Ficha técnica:
Descascado | 2021 | Brasil | 109 min | Direção e roteiro: André Borelli | Elenco: Pablo Diego Garcia, Marcela Gibo.
Distribuição: A2 Filmes.
Trailer: