A coprodução Argentina/Brasil O Diabo Branco trabalha o terror como uma herança da colonização espanhola que vitimou os índios sul-americanos.
A trama
Quatro amigos chegam a um pequeno vilarejo no interior para disfrutar alguns dias de descanso. Na primeira noite, um deles, Fernando, vê um homem com um corte na garganta no meio da mata. E, logo depois, conversa com a filha do dono da estalagem, que desaparece. Na manhã seguinte, Fernando a encontra morta. Impedido de sair da região por determinação da polícia, ele e seus amigos temem que mais eventos sinistros possam acontecer.
A direção
Conhecido por sua carreira como ator, Ignacio Rogers faz aqui sua estreia na direção de longa-metragem. E, faz um bom trabalho, pois consegue construir uma atmosfera misteriosa que assombra toda a duração do filme. O maior trunfo para isso é o roteiro, que ele escreveu junto com Paula Manzone e Santiago Fernandez. Acima de tudo, o fato de o tema recorrer aos fantasmas da colonização já provoca uma recepção positiva do espectador, hoje consciente de que a ação dos colonizadores foi lamentável.
Com isso, se abre a aceitação do sobrenatural que exige sacrifícios humanos para sangrar sobre essa terra que foi violada. O filme acerta ao apresentar gradativamente os fatos cada vez mais estranhos. E aqui se repete o tema das comunidades isoladas que conspiram contra os forasteiros, variante que funciona com êxito no gênero, como, por exemplo, em O Homem de Palha (1973).
Aliás, o diretor Ignacio Rogers opta pelo terror atmosférico, no lugar da violência gráfica, que é evitada. Pelo mesmo motivo, não apela para os sustos. Essas decisões contribuem positivamente para o tom do filme, que se mantém coerente e firme durante todo o tempo.
A única exceção, que diminui a tensão do espectador, são os momentos após o desaparecimento de uma das garotas do grupo. O público sabe que ela foi assassinada, mas os personagens que são amigos dela não, e incomoda que isso permaneça em aberto. Além disso, o desenvolvimento da investigação solitária de Fernando, nesse trecho, acontece em ritmo lento demais.
Outros senões
Quanto aos aspectos técnicos, o que prejudica O Diabo Branco é a sua fotografia. Mesmo para o gênero terror, o filme é escuro demais. Com isso, fica até complicado enxergar as feições dos personagens. Por exemplo, demora para enxergarmos os amigos que se sentam no banco de trás do carro no início do filme, mesmo após eles chegarem à pousada. Ademais, nem conseguimos identificar o corte na garganta do colonizador que virou fantasma, detalhe essencial para a trama.
Além disso, um outro aspecto que incomoda, este do enredo, é a conclusão. Quando um dos moradores mata um dos forasteiros com um revólver, isso destoa da ideia de derramar o sangue sobre a terra, tal como ditam os versos da maldição. Nesse sentido, o esperado era que se cortasse a garganta desse personagem.
Veredito
Enfim, apesar desses senões, O Diabo Branco consegue envolver o espectador, sem apelar para a violência gráfica e sustos baratos. Afinal, como construção atmosférica, o terror aqui funciona bem. Por isso, o filme estreou no 21º BAFICI – Buenos Aires Festival Internacional de Cine Independiente, e entrou em diversos festivais internacionais. Aliás, ganhou menção especial no Festival do Insólito, em Lima, e o prêmio melhor roteiro no BAM, na Colômbia, e em Havana.
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Ficha técnica:
O Diabo Branco | El Diablo Blanco | 2019 | Argentina/Brasil | 80 min | Direção: Ignacio Rogers | Roteiro: Ignacio Rogers, Paula Manzone e Santiago Fernandez | Elenco: Ezequiel Díaz, Violeta Urtizberea, Julián Tello, Martina Juncadella, William Prociuk, Nicola Siri.
Distribuição: Pandora Filmes.
Quer saber mais? Então, leia a matéria com o diretor Ignacio Rogers.