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Belfast (filme)
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Belfast

Avaliação:
7.5/10

7.5/10

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Crítica | Ficha técnica

O ator Kenneth Branagh já alcançou aquele patamar de prestígio como diretor que permite que possa realizar filmes pessoais com orçamento acima da produção independente. No entanto, para isso precisa alternar esses projetos com aqueles encomendados pelos grandes estúdios. Por sinal, esse Belfast (2021) foi realizado entre duas grandes produções que Branagh dirigiu: Assassinato no Expresso do Oriente (2017) e Morte no Nilo (2022).

Kenneth Branagh começou sua carreira de sucesso atuando e dirigindo, em filmes como Henrique V (1989), Voltar a Morrer (1991) e Para o Resto de Nossa Vidas (1992). Com a fama, veio também a grana, e o cineasta não recusou nem a direção de produções da Marvel, a exemplo de Thor (2011).

Mas, de todos os projetos, nenhum é tão pessoal quanto Belfast, que ele escreveu e dirigiu. A história resgata lembranças de sua infância em Belfast, capital da Irlanda do Norte. A trama se passa em 1969, quando os conflitos religiosos se tornavam cada vez mais violentos. Os protestantes exigiam a saída dos católicos, que pretendiam que o país se tornasse parte da Irlanda. O protagonista é o menino Buddy (Jude Hill), cuja família protestante é composta pelo pai (Jamie Dorman), a mãe (Caitriona Balfe) e o irmão mais velho Will (Lewis McAskie), além dos avós (Judi Dench e Ciáran Hinds).

A trama e a forma

O conflito nas ruas se mantém presente durante todo o filme. Apesar de serem protestantes, o pai de Buddy deseja levar a família para Londres, onde ele trabalha, e por isso fica ausente a maior parte do tempo. Como ele não quer integrar o grupo de radicais protestantes conhecido como legalistas (loyalists), sua família corre perigo. Na verdade, todos os moradores do bairro estão em risco porque as ruas viraram um campo de batalha, mesmo com a presença do exército britânico. Assim, o conflito nas ruas se transforma no conflito dentro da família de Buddy, pois a mãe e os filhos não querem se mudar de Belfast, onde conhecem todo mundo e vivem felizes, à parte o clima violento.

Formalmente, Belfast é um belíssimo exercício de estilo. Na abertura, Kenneth Brannah faz a transição da cidade atual para aquela mesma em 1969 com um inspirado plano-sequência. Antes, vemos imagens de vários pontos da Belfast de hoje, com fotografia em cores. Então, a câmera sobrepõe-se a um muro e, atrás dele, encontra as movimentadas ruas da infância do diretor, agora em preto-e-branco. Aliás, após esse momento, apenas em três trechos voltaremos a ver cenas em cores. Nos filmes Mil Séculos Antes de Cristo (1966) e O Calhambeque Mágico (1968) que eles assistem no cinema; e no teatro, quando a cena em cima do palco está colorida. Mais que isso, Branagh sabe posicionar e movimentar a câmera e, aqui, torna o filme muito fluído e prazeroso de se assistir.

A wee picture?

Porém, Belfast custa a engajar o público. Enquanto o conflito religioso existe apenas como pano de fundo, o interesse depende dos personagens e de seus dramas. Há uma consciente intenção de mostrar que a vida de Buddy e sua família em Belfast tem alegria, mas ela está prejudicada pelo ambiente violento. Assim, vemos as ruas com barricadas e ocupadas pelo exército britânico, em contraponto com o relacionamento afetuoso dentro da família e o convívio amistoso com os vizinhos. Alguns momentos até beiram a fantasia, com dança e música na rua e numa festa – o que não causam estranhamento porque refletem a visão do menino. Porém, Branagh não se define quanto ao tom que quer dar ao seu filme de memórias.  

Outro problema é que os personagens principais – Buddy, sua mãe e seu pai – não possuem magnetismo suficiente para atrair a atenção do espectador. Com certeza, são simpáticos, mas certinhos demais para denotarem algum aprofundamento. Nesse aspecto, o avô e a avó, mesmo sendo coadjuvantes, parecem muito mais carismáticos. Não é coincidência que os atores que os interpretam, Ciarán Hinds e Judi Dench, engolem o ator mirim Jude Hill (em seu primeiro papel na vida), Caitriona Balfe, da série Outlander (2014-2022), e Jamie Dornan, de Cinquenta Tons de Cinza (2015) e suas sequências de 2017 e 2018.

De Belfast a Roma

Por fim, muitos comparam Belfast a Roma (2018), de Alfonso Cuarón, outro filme nostálgico sobre memórias da infância de dois cineastas com idades muito próximas – o mexicano nasceu em 1961 e o norte-irlandês em 1960. Afinal, são dois longas com nome de cidades no título, filmados em preto-e-branco, e foram indicados ao Oscar de melhor filme, melhor direção, melhor roteiro original, melhor atriz coadjuvante (Judi Dench) e melhor som. Ademais, seus enredos se passam em épocas similares, quando havia manifestações sociais violentas nas ruas. No entanto, o filme de Cuarón é superior, pois, entre outras coisas, conta com uma protagonista encantadora: a inesquecível Cleo, interpretada por Yalitza Aparicio.

Em benefício de Belfast, pesa a bela trilha sonora com canções de Van Morrison, que nasceu em Belfast e fazia sucesso na época do filme. Inclusive, ele compôs uma música para o filme, “Down to Joy”, que concorre ao Oscar de melhor canção original. Aliás, o filme concorre também ao prêmio de melhor ator coadjuvante (Ciarán Hinds), além dos já citados acima, totalizando sete indicações.


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