Nenhum festival se faz sem problemas. Os que prejudicaram a exibição do filme de encerramento da 9ª Mostra de Cinema de Gostoso, Mato Seco em Chamas, não foram graves. Se eu e Carla Oliveira nos retiramos foi pelo adiantado da hora, que já era previsto. E por uma noite de sono mal dormida que tive, o que acontece em todo e qualquer festival em algum momento, geralmente no final. Saímos na metade em respeito ao filme, certos de que poderemos ver num futuro próximo em melhores condições físicas, sem o sono e o cansaço deste dia específico. O filme de Adirley Queirós e Joana Pimenta nos pareceu bem forte. Carla estava gostando um pouco mais que eu, mas eu já o considerava, até onde vi, um dos melhores desta safra do cinema brasileiro, o que não quer dizer pouca coisa.
A 9ª Mostra de Gostoso termina assim em uma chave forte, com um filme que tem tudo para se tornar um dos mais importantes deste momento. Entre problemas e acertos, ambos característicos de qualquer festival, talvez esta tenha sido a melhor edição entre todas as que participei. Melhor até que a de 2018, minha primeira, quando dois filmes especiais foram exibidos, Ilha e Inferninho. Os diretores da 9ª Mostra de Cinema de Gostoso, Eugenio Puppo e Matheus Sundfeld fizeram um ótimo trabalho. E mandaram muito bem como mestres de cerimônia, de um jeito descontraído e bem humorado, além da habilidade em dar atenção a todos os convidados.
Premiações
Quanto à premiação, é possível dizer que nosso preferido nos longas fez barba e cabelo. A Filha do Palhaço, de Pedro Diógenes, ganhou melhor filme pela votação do público e pela votação da imprensa, representada por cerca de dez jornalistas, incluindo nós dois. Foi dada uma menção honrosa a outro longa que ficou muito perto de vencer, o acreano Noites Alienígenas, de Sérgio de Carvalho, o que nos leva a crer que filmes exibidos no sábado levaram vantagem, talvez porque pegaram o maior público. Tanto eu quanto Carla apostávamos em A Mãe, de Cristiano Burlan, para prêmio popular, pois foi o filme que mais reação causou na plateia, incluindo aplausos em cena aberta e comoção geral no final. Se tivesse passado no sábado, talvez tivesse levado. De todo modo, foi meu segundo preferido entre os longas da competição, perdendo apenas para o longa de Diógenes.
Confirmando o favoritismo de exibidos no sábado, e nossa própria impressão, registrada no diário do segundo dia (escrevi, na ocasião, que “não me surpreenderia se ganhasse o prêmio de melhor curta na votação do público”), o vencedor de melhor curta na votação popular foi Ela Mora Logo Ali, de Rondônia, dirigido por Fabiano Barros e Rafael Rogante. O prêmio da imprensa foi para Ainda Restarão Robôs nas Ruas do Interior Profundo, de Guilherme Xavier Ribeiro. Como não aceitamos a derrota de nosso preferido, Infantaria, de Laís Santos Araújo, fomos, eu e Carla, fechar as estradas com pneus em chamas. Isto, claro, na realidade paralela onde vivem os falsos patriotas desta terra.
Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.
(foto/divulgação: troféus da 9ª Mostra de Cinema de Gostoso)