Divertimento conta como foi o início da carreira de uma jovem de 17 anos em busca de seu improvável sonho de ser regente de orquestra. O filme se inspira na história de Zahia Ziouali, uma das poucas maestrinas do mundo.
O enredo começa com uma introdução protocolar em cinebiografias. Zahia, aos 7 anos, se junta à família que assiste a um concerto na televisão, e seus braços começam a se mexer como os gestuais do condutor da orquestra. A abertura dá a impressão de que veremos um filme sem muitas surpresas. O que, de fato, acontece. Mas, a diretora Marie-Castille Mention-Schaar, já em seu sétimo longa, tira o melhor desse relato e constrói uma obra, se não original, que emociona.
O recorte escolhido foi crucial nesse acerto. Cobre um curto período da vida de Zahia Ziouali, quando ela tinha 17 anos, em 1995, e enfrentava um momento decisivo. Ela e sua irmã gêmea Fettouma conseguem entrar numa prestigiada escola de música de elite. Logo de cara, a origem suburbana se torna um pretexto para alguns dos outros alunos as desdenharem. Principalmente Zahia, que vira alvo de inveja porque a professora lhe dá a chance de seguir seu sonho de ser regente.
Altos e baixos
A escolha das atrizes que interpretam esses dois papéis protagonistas é outro grande acerto da produção de Divertimento. Oulaya Amamra alterna os diversos sentimentos de Zahia ao longo da trama. Ela passa por humilhações diante dos colegas burgueses, encara um mentor severo e algumas vezes ríspido, mas também escancara uma satisfação tremenda quando está regendo. De forma similar, Lina El Arabi encarna os altos e baixos da violoncelista Fettouma, incluindo uma visão mais romântica que a difere da obcecada irmã.
Afinal, Zahia não se contenta apenas em tentar furar a bolha dos preconceitos machistas. Vai além e inicia projetos inclusivos em seu bairro de subúrbio, mesclando músicos locais com alguns alunos da sua escola de elite. É essa orquestra que recebe o nome de “Divertimento”, da composição de Joseph Haydn (1732-1809). Para sorte de Zahia, e da irmã, os pais dão apoio irrestrito. E o filme também serve para as biografadas agradecerem a eles, com certeza.
Na parte final, Zahia enfrenta uma crise de autoconfiança, diante de alguns revezes em seus sonhos. A ponto de desistir de tudo, recebe uma surpresa planejada pela irmã, e apoiada por todos os músicos que ela tem conduzido como maestrina. Assim, lembrando o clássico momento de solidariedade e união entre liderados e líder em Spartacus (1960), de Stanley Kubrick, o filme termina numa conclusão emocionalmente apoteótica. Vários personagens que vimos ao longo do enredo retornam para esse momento (faltou apenas o mestre de Zahia), em um número musical, encerrando como uma produção bollywoodiana.
Divertimento consegue assim ser um daqueles filmes biográficos que inspiram as pessoas com sonhos improváveis. Nesse caso, especialmente as mulheres que almejam uma função tradicionalmente masculina.
O filme Divertimento estreia nos cinemas em 18/07/2024.
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Ficha técnica:
Divertimento | 2023 | 110 min. | França | Direção: Marie-Castille Mention-Schaar | Roteiro: Clara Bourreau, Marie-Castille Mention-Schaar | Elenco: Oulaya Amamra, Lina El Arabi, Niels Arestrup, Zinedine Soualem, Nadia Kaci, Laurent Cirade, Martin Chapoutot, Louis-Damien Kapfer.
Distribuição: Imovision.
Assista ao trailer internacional aqui.