“Donnie Darko”: o filme cult sobre o maior medo das crianças
“Donnie Darko” ganhou status de cult rapidamente. Aliás, com justiça, considerando os elementos que construíram essa sua fama. Primeiro, e mais importante, a estória criada pelo diretor e roteirista Richard Kelly é um drama psicológico que permite várias interpretações e não entrega respostas fáceis. Junte a isso as várias pistas espalhadas ao longo do filme, que convidam o espectador a revê-lo várias vezes, característica essencial de um cult.
Além do mais, traz um futuro astro, Jake Gyllenhaal, como protagonista – e também sua irmã, Maggie. Sem contar o mais óbvio: um título fácil de ser lembrado e com alto potencial mercadológico. No próprio filme, um personagem brinca com Donnie que seu nome parece o de um super-herói.
A história
Donnie está no final da adolescência e apresenta sintomas de esquizofrenia. Por isso, frequenta sessões de terapia e precisa tomar medicamentos. Então, começa a ter alucinações onde vê um coelho gigante com cara de monstro que lhe diz que o mundo irá acabar dentro de trinta dias. Logo após, um acidente acontece. A turbina de um avião cai em cima de seu quarto. Por sorte, ele não morre porque a alucinação lhe deu sonambulismo e ele adormeceu em um campo de golfe.
O coelho continua a aparecer e dar comandos a Donnie, como inundar a escola e incendiar a casa de um guru salafrário. Até que o garoto percebe que precisa decidir se deve salvar sua família ou a si próprio.
Desafio ao espectador
O filme constantemente desafia o espectador a decidir se o que Donnie vê são alucinações ou parte de uma realidade fantástica. No início, por exemplo, uma música pop da banda Echo & The Bunnyman (nota: “bunny” é coelho em inglês), toca enquanto as imagens são aceleradas e alternam as pessoas que são enfocadas pela câmera, como muitos videoclipes fazem. Essa sequência, por isso, pode ser fruto da cabeça do adolescente. Assim como o fato de a professora pedir para uma linda aluna nova (Jena Malone), em seu primeiro dia, se sentar ao lado do garoto que ela considera o mais bonito da classe. Ela se senta ao lado de Donnie, mas qual professora pediria uma coisa dessas? Será também imaginação de Donnie?
“Donnie Darko” exibe várias cenas surreais, enfatizando a desconfiança de que tudo acontece somente na cabeça de Donnie. Adicionalmente, essa fuga da realidade é reforçada pelos títulos que surgem de tempo em tempo identificando quanto falta para o fim do mundo e que se intrometem com o desenrolar da trama.
Montagem de cenas
Richard Kelly, o diretor, utiliza duas vezes a montagem de cenas como recurso explicativo do que acontece, sendo a da parte final a mais marcante, principalmente porque soluciona satisfatoriamente o que ocorre com o protagonista. E, como a sequência apresenta somente imagens e sons, sem uma narração, ela permite várias interpretações sobre o tema central do filme.
A mais intrigante revela que Donnie opta por se sacrificar em lugar de sua família, uma solução heroica que o afasta do lunático problemático que se acreditava que fosse. De fato, essa alternativa o aproxima de todos nós, que, principalmente quando ainda somos crianças, tememos demais perder nossos pais. Por isso, juramos que, se algo de ruim deve acontecer, que seja conosco e não com eles.
Depois, Richard Kelly continuaria a criar temas enigmáticos. Mas exageraria um pouco na dose, em seu praticamente indecifrável filme seguinte, a ficção científica “Southland Tales: O Fim do Mundo” (Southland Tales, 2006).
Ficha técnica:
Donnie Darko (2001) 113 min. Dir/Rot: Richard Kelly. Com Jake Gyllenhaal, Jena Malone, Mary McDonnell, Holmes Osborne, Maggie Gyllenhaal, Daveigh Chase, James Duval, Patrick Swayze, Drew Barrymore, David St. James, Jazzie Mahannah, Jolene Purdy, Stuart Stone, Gary Lundy, Alex Greenwald, Beth Grant, Seth Rogen, Noah Wyle, Marina Malota, Tiler Peck, Patience Cleveland, Katharine Ross, Lisa K. Wyatt, Ashley Tisdale.