Esta versão de Drácula de 1931 ditou várias regras para os futuros filmes sobre o vampiro criado pelo escritor Bram Stoker. Ao contrário do aterrorizante protagonista de Nosferatu (1922), de F. W. Murnau, o Drácula de Bela Lugosi se assemelha a uma pessoa comum. Aliás, ele não tem nem dentes caninos proeminentes, como seria comum posteriormente, e até é elegante.
Alinhado a isso, o próprio filme evita cenas grotescas. Por isso, não vemos nenhuma gota de sangue, mesmo tendo como protagonista um ser que se alimenta desse líquido. Tudo fica sugerido e não explícito. Por exemplo, Drácula se aproxima de suas vítimas, mas o derradeiro ataque fica por conta da imaginação do espectador. Em alguns trechos, ouvimos o grito da vítima vindo de fora da tela, marcando o ato de horror sem mostrar.
Drácula consegue assustar pela atmosfera que constrói. Nesse sentido, a ausência de trilha sonora contribui significativamente para criar um clima de estranheza. Principalmente para nós, espectadores modernos, que nos acostumamos a filmes em que a música pontua o tom de cada cena.
Bela Lugosi
Além disso, a produção aproveita com inteligência a origem húngara do ator Bela Lugosi. Com isso, cria-se uma aproximação dele com o seu personagem, que mora na Transilvânia, na Romênia. Assim, seu Drácula fala pausadamente, com sotaque forte, e a câmera insiste em focá-lo em longos planos de close-up. Lugosi não pisca, e seu olhar mescla hipnotismo e sedução ao abordar suas vítimas.
O ator já atuava no teatro como Drácula, em peça também baseada no livro de Bram Stoker. Ao todo, foram 261 apresentações na Broadway, iniciando em 1927. Adicionalmente, do elenco teatral, vieram para o filme Edward Van Sloan, que interpreta Van Helsing, e Herbert Bunston, que faz o Doutor Seward.
A cenografia de Drácula também se destaca. Primeiro, nas tomadas exteriores com o fundo pintado, retratando a Transilvânia. Depois, o castelo do conde Drácula, que se tornaria modelo para futuros castelos mal-assombrados no cinema, com escadarias, teias de aranha e móveis velhos. Além, é claro, do porão com o túmulo onde o vampiro repousa durante o dia. Por fim, já em Londres, há a cenografia do manicômio, local da internação de seu servo e palco de seus novos ataques. E, também, um outro castelo que serve de refúgio para o Drácula.
Estranhamente, a conclusão do filme é aberta a interpretações. Afinal, Van Helsing prefere permanecer no castelo onde ele acaba de matar o Drácula com uma estaca – pelo menos, é a conclusão que tiramos ao ouvir o seu grito fora do quadro. Enquanto isso, o casal de protagonistas vai embora a salvo. E, ficamos na dúvida sobre o motivo de Van Helsing preferir ficar no castelo.
Monstros da Universal
O sucesso de Drácula motivou a Universal Pictures a produzir uma nova série de filmes de terror. Na década de 1920, tinha realizado O Corcunda de Notre Dame (1923), O Fantasma da Ópera (1925), entre outros. Com Drácula, na década seguinte a nova leva trouxe Frankenstein (1931), A Múmia (1932), etc.
Porém, diferente do que se possa imaginar, o diretor Tod Browning não participou desse ciclo. Sua carreira começou no cinema mudo, e ele dirigiu filmes de diversos gêneros. Mas, além de Drácula, outra marcante contribuição de Browning para o gênero terror foi Monstros (1932). Um pouco depois, no final da década, em 1939, ele encerrou sua carreira na direção, com apenas 59 anos.
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Ficha técnica:
Drácula (Dracula) 1931. EUA. 75 min. Direção: Tod Browning, Karl Freund. Roteiro: Hamilton Deane, John L. Balderston. Elenco: Bela Lugosi, Helen Chandler, David Manners, Dwight Frye, Edward Van Sloan, Herbert Bunston, Frances Dade, Joan Standing.