Melodrama dilacerante, Dying – A Última Sinfonia expõe as dores de uma família em um momento em que todas as verdades precisam ser ditas. Nesse intuito, a narrativa do filme possui uma estrutura diferenciada para apresentar os personagens. Os três segmentos iniciais, adequadamente separam os Lunies. Primeiro, introduz os pais já idosos, Gerd (Hans-Uwe Bauer) e Lissy (Corinna Harfouch), depois o filho Tom (Lars Eidinger) e, por fim, a caçula Ellen (Lilith Stangenberg). Essas três partes iniciais começam no mesmo momento temporal.
O retrato inaugural, do casal de idosos, prepara o espectador para um enfoque muito duro que prevalece durante todo o restante do filme. Gerd se encontra em estágio avançado de Mal de Parkinson, e já não possui pleno controle de suas faculdades mentais. Sua esposa Lissy tampouco tem condições de saúde para cuidar dele sozinha, mas precisa fazer isso. Uma ida ao supermercado comprova a situação frágil que eles se encontram. Gerd não consegue mais dirigir, porém, se responsabiliza em ditar a direção para Lissy, que está com problemas de visão. Par piorar, os filhos não ajudam – Ellen está num lugar distante e Tom mergulhado no trabalho.
Tom
O capítulo seguinte foca em Tom, um pouco antes da mãe Lissy telefonar para ele. O filme mostra que ele é um regente de orquestra prestes a apresentar a peça composta pelo seu parceiro de trabalho Bernard (Robert Gwisdek), que sofre uma crise de insegurança. Sua visita ao pai, já internado numa clínica, é um dos raros momentos ternos da trama, uma despedida final que faz bem aos dois. Tanto que, após a visita, Tom consegue finalmente conduzir o ensaio da orquestra. Porém, o diretor alemão Matthias Glasner, em seu décimo longa para o cinema, impede que o público se sinta confortável. É o que parece ao mostrar um detalhe cirúrgico do parto da ex-namorada de Tom, e a morte solitária e lenta de Gerd.
A confrontação entre Tom e sua mãe Lissy espanta pela crueza da sinceridade com a qual os dois escancaram a falta de amor um pelo outro. Diante do que eles admitem, fica difícil sustentar qualquer relacionamento minimamente afetuoso entre eles, ainda que sejam filho e mãe.
Ellen e o futuro
No terceiro segmento, finalmente Ellen aparece. Ausente até então não só do filme como da família, o motivo logo fica claro. Ela é alcoólatra e, por isso, vive uma vida louca. Mas, apesar de seu estado sempre instável, ela tem um trabalho como assistente de consultório dentário. Lá, se envolve com um dentista, Sebastian (Ronald Zehrfeld), casado, que poderia se entregar a um romance com Ellen, não fosse pelo vício dela, que destrói até o relacionamento com o irmão. A sua vida, encoberta pelas doideiras do entorpecimento etílico, parece menos triste que a do resto da sua família – mas é só aparência.
Após essas três partes acontecerem simultaneamente, o tempo volta a andar para a frente nos capítulos “A linha tênue”, “Amor” e “Vida”. Contudo, depois de tudo o que o filme apresentou até então, se sobressai mesmo o título do longa, Dying, que também dá nome à sinfonia composta por Bernard e que será regida por Tom. Não apenas pela passagem dos personagens mais velhos, mas porque todos os mais importantes se encontram num estado irreversivelmente depressivo.
Raramente um filme mantém um tom tão amargo quanto encontramos em Dying – A Última Sinfonia. Sem permitir nenhum alívio, suas três horas são capazes de fazer o mais otimista dos espectadores sair do cinema deprimido.
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Ficha técnica:
Dying – A Última Sinfonia | Sterben | 2024 | Alemanha | 181 min. | Direção: Matthias Glasner | Roteiro: Matthias Glasner | Elenco: Corinna Harfouch, Lars Eidinger, Lilith Stangenberg, Ronald Zehrfeld, Robert Gwisdek, Anna Bederke.
Distribuição: Imovision.