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Eduardo e Mônica (filme)
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Eduardo e Mônica

Avaliação:
10/10

10/10

Crítica | Ficha técnica

O diretor René Sampaio repete a fórmula do sucesso Faroeste Caboclo (2013) e transforma em filme outra canção do Legião Urbana. Desta vez, é a história romântica de Eduardo e Mônica (2020). Uma escolha óbvia, pois a própria letra escrita por Renato Russo já lida com esse gênero cinematográfico, juntando dois personagens opostos como um improvável par romântico.

A sequência de abertura, ainda durante os créditos iniciais, apresenta os protagonistas. Esse trecho traz, em paralelo, Eduardo e Mônica em situações semelhantes, mas com atitudes diferentes. Há até o uso de tela dividida, com nuances de interações que indicam a aproximação que está por vir. Por fim, a montagem fecha com uma esperta sincronização do movimento da porta se fechando com a tela se abrindo. Porém, esse capricho visual, que lembra um videoclipe, parece um mau indicador. O filme inteiro ficará preso a essa linguagem?

Felizmente, Renê Sampaio se desvincula da origem musical do filme e trata o enredo priorizando a narrativa. Mesmo assim, o rock está muito presente, com papel essencial para ambientar a trama em 1986. Nesse aspecto, a produção não economizou nos direitos autorais e traz os grandes hits da época. Só não inclui as músicas do Legião Urbana, uma acertada decisão, pois isso poderia tirar o foco da história de amor. Curiosamente, a canção “Total Eclipse of the Heart”, de Bonnie Tyler, surge aqui com a mesma função dramática com a qual foi empregada no posterior Deserto Particular (2021), de Aly Muritiba. Ou seja, a mesma música marca presença em dois dos melhores filmes do recente cinema brasileiro.

Roteiro equilibra transposição e inspiração

O roteiro de Matheus Souza equilibra a transposição literal de alguns trechos da música, mesclando-a com outras situações que são apenas inspiradas por ela. Por exemplo, Eduardo joga futebol de botão com seu avô, Mônica anda de moto e os dois se encontram na praça da cidade. Porém, a letra não menciona que ela foi morar no Rio de Janeiro, evento essencial na trama.

Essa dosagem balanceada é um dos motivos principais que tornam Eduardo e Mônica convincente. Se fosse uma adaptação fiel da composição, seria como um videoclipe estendido e não abriria oportunidades de surpreender. Por outro lado, se se distanciasse demais de sua fonte não só frustraria a expectativa como deixaria de fazer sentido ter esse nome.

Personagens secundários

Entre as criações, destacam-se os ricos personagens secundários do filme. Quando a trama se inicia, Mônica acaba de perder o pai, que era um artista inquieto de quem ela herdou suas mais marcantes características comportamentais. Então, o conflito de Mônica com a sua mãe se acumula até o momento dramático de sua morte, quando a conversa ajuda a protagonista a completar a escalada para seu amadurecimento, iniciada pouco antes por Eduardo.

Enquanto isso, o rapaz foi criado pelo avô, o que já lança a ideia de que ele é mimado. Não é tanto, mas, aos 16 anos, ele é um adolescente inexperiente. A maior contribuição do personagem do avô vem do seu passado como militar e suas opiniões conservadoras. Com isso, permite-se introduzir o tema da ditadura brasileira no filme. Por um lado, com o início da redemocratização na época em que se passa a história, esse tema é palco para acentuar as diferenças entre Mônica e Eduardo. Por outro, a política ajuda a manter o filme atual.

Outro personagem essencial ligado a Eduardo é seu melhor amigo Inácio, cuja última cena insere a questão sexual de Renato Russo na trama. Aliás, caberia até uma menção ao músico, substituindo o nome do namorado de Inácio. Ao invés de Marco, ele poderia se chamar Renato. Seria uma forma sutil e não intrusiva de colocar o compositor no enredo.

Brasília

Vale, também, pontuar como o diretor René Sampaio caracteriza o momento mágico da noite em que os dois protagonistas se conhecem. Com grande sensibilidade, e um inteligente posicionamento da câmera, o cineasta quebra a dureza do concreto que marca a cidade de Brasília, cenário da trama, quando surpreende o espectador ao tornar horizontal o que é vertical, ou belo o que é feio.

Dessa forma, já trabalha nessa parte inicial a questão da perspectiva, que retorna na conclusão. Além disso, Mônica e Eduardo brincam com as sombras no exterior do Congresso Nacional. Com isso, enfatiza como a flexibilidade das sombras é mais bonita e divertida que a rigidez do cimento. Ademais, esta sequência é a única feita com montagem de planos curtos, recurso que em outros filmes românticos é usado exageradamente.

Expectativas

A diferença de idade entre os protagonistas não é um problema, como pode parecer a princípio. Eduardo tem 16, quase 17, e Mônica já está perto dos 30 anos. Porém, as brilhantes atuações da consagrada estrela internacional Alice Braga e do talento ascendente Gabriel Leone não deixam dúvidas de que os dois estão loucamente apaixonados um pelo outro. Apesar dessa paixão, compreendemos suas angústias quando não se encaixam no mundo dos seus parceiros. Isso fica latente para Mônica no jantar de Natal com a presença do avô de Eduardo. E, para este, na viagem para a Chapada com os amigos dela.

A parte final possui uma surpreendente inversão de expectativas quando Eduardo se mostra mais maduro do que a namorada mais velha. Ele compreende a quão valiosa é a liberdade para sua amada, e está disposto a sacrificar seu amor para não a prejudicar. A sua afirmação deixa Mônica sem palavras. Aliás, o início do romance também revelara a maturidade do rapaz, quando ele aborda Mônica na festa, após ser dispensado, pedindo para que ela se coloque no lugar dele. Novamente, remetendo à perspectiva.

Perspectiva

Por fim, o desfecho na exposição de arte dela é arrebatador. As criações revelam que Eduardo faz parte da vida dela, pois ele está presente em suas obras. Mais que isso, a exposição diz muito sobre perspectiva. Assim, somente a partir de um determinado posicionamento é possível ler a frase da canção que está escrita em paredes e pilares. Já o olhar do alto permite que se enxergue o peixe dourado, aquele que Eduardo usou como símbolo de liberdade. E, que Mônica agora usa para revelar que sua liberdade cabe no relacionamento entre os dois.

Em suma, inspirado pela canção do Legião Urbana, Eduardo e Mônica surge nas telas como um encantador filme romântico. Tem tudo para ser a maior bilheteria nacional deste verão.


 
Ficha técnica:

Eduardo e Mônica (Eduardo e Mônica, 2020) Brasil. Dir: René Sampaio. Rot: Matheus Souza, Claudia Souto, Jessica Candal, Matheus Souza, Michele Frantz. Elenco: Alice Braga, Gabriel Leone, Juliana Carneiro Da Cunha, Otávio Augusto, Victor Lamoglia, Bruna Spínola, Fabrício Boliveira.

Distribuição: Downtown Filmes, Paris Filmes.

Trailer:

Fotos: divulgação (Janine Moraes)

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Onde assistir:
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