Em Busca de um Sonho revela a história da famosa stripper dos anos 1920 Gypsy Rose Lee, com roteiro baseado nas suas memórias.
Gypsy é fruto da sua persistente mãe Rose, disposta a ser uma produtora de sucesso no teatro vaudeville a qualquer custo. Primeiro, Rose aposta suas fichas na caçula June, pois pensa que Louise, nome verdadeiro de Gypsy, não possui talento. Consegue algumas apresentações em várias cidades, ajudada por seu namorado Herbie Sommers, experiente empresário do setor. Mas June não está contente com os shows infantilizados que a mãe cria, e aos 13 anos resolve fugir para se casar com um dos dançarinos.
Então, a única saída para Rose continuar a tentar a vida no show business é investir em Louise. Sem conseguir nenhum contrato, aceita que a filha se apresente em um teatro burlesque. A princípio, repetindo o mesmo ato que era da outra filha. Mas, surge uma oportunidade de Rose substituir uma stripper e a mãe a convence a aceitar o desafio. Assumindo o papel de uma dançarina de classe, ela só tira a roupa parcialmente, mas, mesmo assim, conquista o público. Nasce, então, a personagem Gypsy Rose Lee, que alcança sucesso em todo os Estados Unidos.
Erros e acerto
O filme do experiente diretor Mervyn Leroy possui erros e acertos. O grande momento da virada na vida de Gypsy é belamente retratado. Nesse sentido, depois de colocar um vestido justíssimo e maquiagem, ao invés de calças e camisas largas que a faziam parecer um menino, ela se olha no espelho e se descobre uma bela mulher. Como resultado, isso que lhe dá coragem para entrar no palco para apresentar o strip tease que inicia sua nova carreira.
Adicionalmente, Mervyn LeRoy se aproxima de Fellini quando apresenta as strippers que ensinam Gypsy como agradar ao público. São personagens que exageram na dose de sexualidade e, por isso, beiram o grotesco. O humor fica muito próximo daquele retratado pelo cineasta italiano, quando colocava em seus filmes prostitutas totalmente fora da preferência masculina.
Rosalind Russell e Natalie Wood
Os diferentes estilos de interpretação das atrizes Rosalind Russell e Natalie Wood, respectivamente como Rose e Gypsy, funcionam perfeitamente para contrastar as personalidades diferentes das protagonistas. Aos 55 anos, Rosalind Russell mantém a sua conhecida agilidade em apresentar suas falas com a velocidade de uma metralhadora. Ela resgata aqui as comédias slapstick que a tornaram famosa, como Jejum de Amor (His Girl Friday, 1940).
Por outro lado, Natalie Wood possui aquela força interpretativa interna com alta carga dramática, que se encaixa muito bem na sua personagem Gypsy. Afinal, desprezada pela mãe, que a considerava sem talento, ela sofre quieta e permanece submissa. Somente após o sucesso ela confronta a dominadora Rose.
A porção dramática de Em Busca de um Sonho é sólida, retratada a partir de personagens bem construídos. Porém, o filme é um musical clássico, daqueles em que os protagonistas cantam suas falas como se fossem parte da narrativa – a maior parte delas interpretadas por Rosalind Russell e algumas por Natalie Wood. E o problema é que as canções são muito chatas, com melodias tão sem graça que nunca empolgam.
E Natalie Wood tinha acabado de protagonizar Amor Sublime Amor (West Side Story, 1961), que possui músicas maravilhosas. Quando a vemos cantando e dançando nos fundos de uma rua de Nova York em Em Busca de um Sonho, sentimos uma falta imensa do compositor Leonard Bernstein.
Ficha técnica:
Em Busca de um Sonho (Gypsy, 1962) EUA. 143 min. Dir: Mervyn LeRoy. Rot: Leonard Spigelgass. Elenco: Rosalind Russell, Natalie Wood, Karl Malden, Paul Wallace, Betty Bruce, Parley Baer, Harry Shannon, Morgan Brittany, Ann Jillian, Diane Pace, Faith Dane, Roxanne Arden, Jean Willes, George Petrie.