Poster de "Emilia Pérez"
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Emilia Pérez

Avaliação:
5,5/10

5,5/10

Crítica | Ficha técnica

O diretor francês Jacques Audiard atinge o ápice de sua modesta carreira em seu 11º longa, o musical Emilia Pérez. Pelo menos em termos de repercussão, pois o filme recebeu três prêmios em Cannes e outros em diversos festivais, além de ser indicado a 13 Oscars. Parte desse impacto vem da ousadia de filmar uma história dramática no formato musical – daqueles em que os atores começam a cantar repentinamente. Já outra parte vem do elenco. A espanhola Karla Sofía Gascón estreia em longa usando esse nome (ela fez outros oito como Juan Carlos Gascón), mas é Zoe Saldana quem rouba a cena, pela coragem em cantar e dançar em cena (aliás, ela é protagonista também, apesar da indicação ao Oscar de coadjuvante).

O musical

Contudo, o formato musical representa, ironicamente, o ponto fraco de Emilia Pérez. Não pelo gênero em si, nem por ser um drama, mas porque o diretor e o elenco (apesar das premiações) parecem tímidos demais como cantores e dançarinos. Por não serem especialistas, se esforçam demasiadamente para darem conta dessas funções. A exceção é Selena Gomez, que construiu uma carreira dupla, como atriz e cantora (porém, sem ser uma virtuosa em nenhuma dessas trilhas).

Como resultado, são poucas as danças no filme, e as poucas restringem-se a performances individuais (Saldana no jantar de gala, por exemplo). Fazem falta aquelas coreografias monumentais com dezenas de dançarinos criando simetrias visuais maravilhosas, tão apreciadas em musicais. E não é necessário voltar ao mestre Vincente Minnelli para citar bons exemplos disso – La La Land (2016), de Damien Chazelle, enche a tela com esses bailados. E o máximo que encontramos em Emilia Pérez são alguns segundos do plano filmado de cima na cena em Bangkok, com um acanhado efeito caleidoscópico. Para não passar batido, tem também uma colagem de rostos cantando em coro, efeito muito bonito e sensibilizador, representando as famílias de desaparecidos.

Da mesma forma, essa escolha pelo musical com atores não-cantores produz cantorias sussurradas ou apensas conversas ritmadas. Raramente alguém solta a voz, o que limita o desejado encanto dos números musicais. Esse efeito lembra Adam Driver em outro filme francês, Annette (2021), de Leon Carax; ou Joaquin Phoenix em Coringa: Delírio a Dois (2024), de Todd Phillips.

O drama

O musical seria uma ótima escolha por não ser nada óbvia, mas isso se fosse bem executado. Como está no filme, além de não empolgar, diminui o drama e a ação do enredo. No filme, um dos chefes do narcotráfico mexicano, Manitas (Karla Sofía Gascón), contrata a advogada Rita (Zoe Saldana) para mudar a sua identidade de gênero. Para isso, Rita deve encontrar um cirurgião que transforme o corpo dele de homem num de mulher, bem como quem consiga um novo documento para ele e para sua família (a esposa Jessi [Selena Gomes] e os dois filhos pequenos), que não sabe de nada e é transferida para a Suíça.

Cinco anos depois, Emilia (antes Manitas) volta a contatar Rita, agora para levar a sua família de volta para o México. Sem saber que Emilia é Manitas, todos moram na mesma casa. Emilia quer se redimir de seu passado criminoso, e funda uma ONG que ajuda as famílias com parentes desaparecidos por causa da violência do narcotráfico. Tudo vai bem, até que Jessi resolve se casar com seu novo namorado e levar os filhos com ela.

A mulher e o homem, o bom e o mau

Note nessa trama que a personagem principal é uma criminosa em sua versão masculina e uma ativista dos direitos humanos após sua transformação em mulher. Detalhe esse que provoca um gancho para inserir a mulher como o lado mais sensato da humanidade. Mas, essa visão fica obstruída pelas outras duas personagens femininas, Rita e Jessi, que se aproveitam do dinheiro sujo de Manitas. Quem, de fato, conduziria Emilia na ponte para a redenção é outra mulher, com o sugestivo nome Epifania (Adriana Paz), uma vítima de um casamento abusivo que fica aliviada ao descobrir que seu marido desaparecido está morto. O relacionamento amoroso entre Emilia e Epifania corrobora que a mudança de gênero ultrapassa a questão sexual. Indica que a nova identidade como mulher significa deixar o lado sombrio de sua vida para trás. Porém, a maldade, agora incorporada em outro homem, o namorado de Jessi, atrapalha os sonhos de Emilia.

Apesar de ser um musical, Emilia Pérez possui um tom muito sombrio. A escuridão está inserida na sua trama, mas também se consolida na fotografia, na aparência desglamurizada dos personagens, nas músicas pouco melódicas e sussurradas. Por isso, fica entre o real e a fantasia, e perigosamente entre o autêntico e o falso, até por ser uma produção francesa abordando uma história mexicana atual. Jacques Audiard foi mais certeiro em seu filme anterior, Paris, 13º Distrito (2021).

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Ficha técnica:

Emilia Pérez | 2024 | 132 min. | França, México, Bélgica | Direção: Jacques Audiard | Roteiro: Jacques Audiard | Elenco: Zoe Saldana, Karla Sofía Gascón, Selena Gomez, Adriana Paz, Edgar Ramírez, Mark Ivanir, Eduardo Aladro.

Distribuição: Paris Filmes.

Trailer:

Onde assistir:
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