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Annette (filme)
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Annette | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
5/10

5/10

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Crítica | Ficha técnica

Tenho vários amigos que adoram o cinema de Leos Carax. São críticos ou cinéfilos cuja postura e gosto tendem a ter vários pontos de contato com os meus. Por isso mesmo, nunca entendi direito essa adoração. Com a exceção de Boy Meets Girl (1984), no qual o estilo parece mais apaixonado e menos calculado, não enxergo excelência alguma em seu cinema, nem mesmo uma faísca da genialidade que meus amigos veem. E Sangue Ruim (Mauvais Sang, 1986), francamente, não consigo engolir. E olha que já tentei três vezes (já Pola X, de 1999, tentei uma vez só, e não sei se aguento encarar novamente).

Vejo algumas características que se repetem em quase todos os filmes desse realizador: afetação nas cenas de sexo e de explosão dramática, desequilíbrio nas atuações que ele raramente consegue contornar (Guillaume Depardieu péssimo em Pola X, por exemplo), uma inconsequência nas ações dos personagens bem típica do cinema francês desde a nouvelle vague, uma impressão de querer forjar poesia a qualquer custo – a música tem forte apelo nesse sentido, vide o momento “Modern Love” de Sangue Ruim.

Annette

Isto para dizer que cheguei a Annette, seu sexto longa, com expectativas já um pouco baixas. Por um lado, havia a música dos Sparks, banda americana que amo desde que a conheci, nos anos 1980. O filme, aliás, já começa com eles em ação, saindo de um estúdio e indo para a rua para encontrar o elenco. A ideia de um musical também me parecia agradável, já que tenho grande apreço pelo gênero e por suas manifestações dos dois lados do Atlântico.

Por outro lado, algumas imagens vistas do filme me levavam a uma desconfiança, a começar pelo cartaz de divulgação. Ainda o fato, para voltar ao início do texto, de que Carax me parece ser um dos casos de cineastas que críticos se sentem na obrigação de gostar, embora, concedo, mais talentoso que outros desse tipo, como Nadav Lapid ou Paolo Sorrentino. Claro que essa formulação é mais cômoda para mim, por impedir que eu chegue à conclusão de que minha inteligência e sensibilidade são inferiores ao que o filme (ou o cinema do diretor) pede.

Mas pensei bem antes de externá-la aqui. Li coisas escritas por críticos que respeito e nada colou. As empolgações realmente não fazem sentido para mim. Talvez Carax seja um feiticeiro e algo em mim, e em alguns amigos críticos que também não embarcaram na piração da vez, incluindo minha alma gêmea Carla Oliveira, resista a esse feitiço. Ou ainda não estou pronto para o cinema desse realizador. Na dúvida, devo confiar no julgamento atual.

A trama

Na trama, o comediante de palco Henry McHenry (Adam Driver lembrando seus dias infames com Noah Baumbach e o execrável Enquanto Somos Jovens, 2015) e a cantora de ópera Ann Defrasnoux (Marion Cotillard, que não compromete) se casam e têm uma filha chamada Annette, que na verdade é uma boneca, uma espécie de versão feminina de Chucky deslocada de um filme de horror para um musical. Essa boneca é um artifício interessante, ainda que dentro do tipo de excentricidade que costuma ser bem aceito em festivais europeus. Se aceitamos que o filme seja quase todo cantado, por que não aceitar uma boneca no lugar da filha?

Em dado momento, o casamento começa a naufragar, pois Henry passa a fracassar nos palcos enquanto Ann permanece em alta. O filme vira então um tipo moderninho de Nasce uma Estrela (podem comparar com a pior versão, de 1976, com Kris Kristofferson e Barbra Streisand). Até que um acidente acontece e Annette se revela também uma cantora, inspirada pela luz da lua. Com o nome Baby Annette, passa a excursionar pelo mundo com seu pai e o maestro, antigo amante de sua mãe. O filme ganha temporariamente algum interesse, incluindo elementos de sobrenatural e uma considerável melhoria na atuação de Driver (que é também produtor). Mais não posso adiantar. Mas é possível dizer que o filme volta a piorar e que há, apesar disso, um desfecho tocante, embora devido à chantagem sentimental, o que sempre pesa contra.

Annette dificilmente será o filme que irá mudar o olhar daqueles que rejeitam Carax. Muito do que costuma incomodar nos filmes do diretor vem aqui em doses cavalares. Em compensação, pode deixar um ponto de interrogação em alguns daqueles que o adoram. Terá o cineasta outrora genial (para estes últimos) sucumbido de vez ao papel de realizador das calculadas excentricidades de festivais? Pensando bem, já não era assim em Holy Motors (2012)e Pola X?

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.


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