William Nicholson exorciza os seus demônios pessoais através de seu filme Enquanto Houver Amor. Por isso, ele mesmo assume a direção do roteiro que escreveu. O que é raro, haja vista que o último longa que ele dirigiu foi À Luz do Fogo (Firelight), em 1997. Nicholson construiu sua carreira muito mais como roteirista, acumulando duas indicações ao Oscar, por Terra das Sombras (Shadowlands, 1993) e Gladiador (Gladiator, 2000).
Para escrever Enquanto Houver Amor, Nicholson remexeu seu passado. Especificamente, no ponto da separação dos seus pais, episódio que o afetou imensamente. Assim, são dele as palavras do narrador no filme, encarnado por James (Josh O’Connor), filho de Edward (Bill Nighy) e Grace (Annette Bening). Um maduro James reflete sobre essa época de sua vida, quando ainda era um jovem adulto. Ele já tinha saído da casa dos pais, que fica numa pequena cidade litorânea. Agora, mora sozinho e sua mãe reclama que há meses ele não a visita.
O enredo
Enquanto Houver Amor capta o fim de semana em que Edward deixa Grace para morar com uma outra mulher. Antes disso, o filme evidencia que a relação entre o casal estava desgastada. Os efeitos da decisão de Edward, então, se tornam o centro da narrativa. Grace não aceita bem essa mudança. Ela acredita que o marido mudará de ideia, e não assina os documentos do divórcio. Por fim, na conclusão, ela indica que seguirá um novo rumo e tudo retoma um novo equilíbrio – o que fica indiretamente indicado nos soldados de brinquedo que estão na mesa do ex-marido no novo lar dele. A mudança de Grace talvez venha do baque de conhecer Angela, a segunda mulher de Edward, pois o encontro lhe trouxe a concretude de sua situação. Ou então, a mudança veio do argumento simples e matemático de Angela.
Para James, a separação lhe causou sofrimento pela perda da família como ele a conhecia. Por outro lado, serviu como um alerta para o fato de que ele não podia simplesmente se afastar de seu pai e de sua mãe. Assim, todos aprenderam alguma coisa com esse evento.
Características do filme
Enquanto Houver Amor não possui um tom amargo. A situação retratada representa um drama vivenciado por muitas famílias, mas ganha força quando individualizado. Principalmente, porque aqui reflete um acontecimento experenciado pelo criador da obra. Nicholson não julga o pai nem a mãe, mas deixa escapar suas características próprias que podem ter minado o casamento. Acima de tudo, o desinteresse do pai e a tendência da mãe em ser dominadora.
Os diálogos rebuscados e a narração quase literária, entremeada por trechos de livros e poesias, se encaixam como contraponto ao prosaico da trama. Bill Nighy atua aqui de forma contida, como exige o seu papel. Já Annette Bening quase extrapola a tendência de seu personagem exigir ser o centro das atenções. Mas, no geral, Enquanto Houver Amor soa como um filme equilibrado, similar ao que se torna a vida de seus três protagonistas após esse momento de crise.
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Ficha técnica:
Enquanto Houver Amor | Hope Gap | Reino Unido | 2019 | 100 min | Direção e roteiro: William Nicholson | Elenco: Annette Bening, Bill Nighy, Josh O’Connor, Aiysha Hart, Ryan McKen, Joe Citro, Sally Rogers, Nicholas Burns, Steven Pacey, Derren Litten, Rose Keegan.
Distribuição: Califórnia Filmes.
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