Espiral – O Legado de Jogos Mortais (2021) é o nono filme da franquia “Jogos Mortais”, iniciada com o hoje cultuado longa de 2004 dirigido por James Wan.
Desta vez, reassume a direção Darren Lynn Bousman, que fez o segundo, o terceiro e o quarto filme da franquia. O que não anima muito, pois ele nunca mais conseguiu superar o mediano em sua carreira especializada no terror. Aliás, o seu trabalho anterior, Minha Morte (Death of Me, 2020), com Maggie Q, é um verdadeiro lixo. Enfim, ao lidar aqui com um terreno já conhecido, ele consegue, pelo menos manter a dignidade.
A trama acompanha o detetive Zeke Banks (Chris Rock), encarregado por sua chefe, a capitã Angie Garza (Marisol Nichols), de liderar o caso de assassinato de um amigo policial. As pistas remetem aos métodos do serial killer Jigsaw. Será um imitador ou mesmo um discípulo do John Kramer? Além das investigações, Zeke enfrenta a falta de confiança dos demais colegas da delegacia, por ter denunciado um companheiro que abusou do poder, anos atrás. Ademais, alguns o consideram privilegiado por ser filho de Marcus Banks (Samuel L. Jackson), um lendário e exemplar capitão da polícia. Para melhorar seu comportamento, Angie lhe designa um novo companheiro, o novato William Schenck (Max Minghella).
Crueldade sádica
No quesito violência, Espiral – O Legado de Jogos Mortais não deve nada aos outros filmes da franquia. As mortes possuem uma crueldade sádica, daquelas que nem todos os espectadores conseguem encarar de olhos abertos. Porém, o jogo entre opções, geralmente de autoflagelo, para salvar a própria vida, produz um impacto menor do que vimos antes. A decisão cruel é proposta em uma mensagem num gravador portátil, mantendo a tradição, porém, a resolução acontece apressadamente demais. Com isso, não vemos a agonia da vítima em tomar sua decisão, e, pior ainda, temos a impressão de que ela morreria não importa qual fosse sua escolha. Ou seja, o terror funciona, mas não há suspense nenhum.
Por outro lado, a estreia de Chris Rock nesse gênero levanta ressalvas. O famoso comediante força uma interpretação afetada, e seu personagem Zeke grita o tempo todo, como se estivesse constantemente pilhado. Além disso, ele fala algumas frases cômicas totalmente deslocadas. Por exemplo, prestes a uma reunião tensa com a capitã, num banheiro masculino, Zeke comenta para o colega que sai do recinto: “Droga, cara, lave as mãos!”.
Spoilers adiante
No entanto, o roteiro é o maior problema de Espiral – O Legado de Jogos Mortais. A dupla Josh Stohlberg e Peter Goldfinger escreveu Jogos Mortais: Jigsaw (Jigsaw, 2017), o capítulo anterior da franquia, que rendeu muitas críticas desfavoráveis. Aqui, a trama criminal indica uma sólida construção, mas esta desaba durante a história. Afinal, o “novo Jigsaw” parece focado em assassinar policiais que cometeram algum deslize em suas funções. É o que indica os primeiros crimes, e que daria uma relevância social ao enredo. Porém, quando surge a morte da capitã, sem uma devida revelação de seu erro, e, principalmente, a evidência do assassinato de Schenck, essa teoria parece ruir. Quais foram seus erros anteriores?
Sem contar que, por não mostrar a cena da morte do jovem parceiro de Zeke, fica um tanto quanto óbvio descobrir quem é o assassino, apesar de o filme conduzir as suspeitas para Marcus Banks.
Assim, Espiral – O Legado de Jogos Mortais pode agradar aos fãs da franquia que se deleitam com a violência sádica. Porém, decepciona os demais, que querem um bom filme de terror e suspense.
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Ficha técnica:
Espiral – O Legado de Jogos Mortais (Spiral: From the Book of Saw) 2021. Canadá/EUA. 93 min. Direção: Darren Lynn Bousman. Roteiro: Josh Stolberg, Pete Goldfinger. Elenco: Chris Rock, Samuel L. Jackson, Max Minghella, Marisol Nichols, Dan Pertonijevic, Richard Zeppieri, Patrick McManus, Ali Johnson, Zole Palmer.
Distribuição: Paris Filmes.