“Ex-Machina: Instinto Artificial” faz parte daquele grupo de filmes de ficção científica para se levar a sério. Tematicamente, se assemelha a “A.I.: Inteligência Artificial” (Artificial Intelligence: AI, 2001), de quem o título nacional força uma aproximação. Mas, visualmente se posiciona no oposto. Enquanto o filme de Steven Spielberg brilha como um parque de diversões, o de Alex Garland satura o branco asséptico e frio.
Caleb (Domhnall Gleeson) ganha um prêmio em sua empresa e passará uma semana na casa do seu fundador, Nathan (Oscar Isaac), que é um gênio da robótica e pretende usar seu empregado para testá-lo frente a seu último modelo, Ava (Alicia Vikander). Com rosto de mulher, mas partes de robô à mostra, Ava foi desenhada para criar consciência. No entanto, o teste não é tão direto e simples. No decorrer do filme, cada um dos três protagonistas deve descobrir quem está manipulando quem.
Espaço restrito
Ava possui um espaço restrito dentro da casa, paredes de vidro a mantêm isolada, sem contato direto com Caleb, enquanto conversam. Pelo menos, este é o ponto de vista mais óbvio, porém, o próprio Caleb possui um cartão que permite que ele acesse somente alguns recintos da residência. No primeiro apagão na casa, evento que tornaria a se repetir mais vezes, o rapaz sente-se frágil ao perceber que não conseguia abrir a porta de seu quarto.
O semblante meigo de Ava acaba por conquistar a empatia de Caleb, que então decide ajudá-la a escapar do domínio de Nathan. Contudo, as coisas se revelam muito mais complexas. A partir de certo momento, Caleb desconfia de todos, até de si mesmo, e resolve se cortar para descobrir o que está por baixo de sua pele.
Mas algumas cenas chocam, como quando Ava veste a pele de outros androides, arrancando-a e colando sobre seu corpo. E rostos desfigurados, mostrando o robô que se encontra por baixo, sempre causam estranheza (lembram-se de “O Exterminador do Futuro”?).
Aperfeiçoamento
Mesmo assim, o que gera calafrios é o tema do filme em si. A busca pelo aperfeiçoamento robótico e a criação de uma inteligência artificial continua um dos objetos principais da ciência moderna. Mas será que esse avanço seria realmente benéfico para a humanidade? Ou apenas o caminho perverso que muitos filmes alertaram que leva ao fim da raça humana?
Como o cinema gosta de insistir, desde “Frankenstein” (1931), bancar o deus não é papel de nenhum ser humano. E, quem se atreve, acaba punido.
“Ex-Machina: Instinto Artificial”, em contradição com seu tema, faz o melhor uso do ser humano, no caso os atores. O irlandês Domhnall Gleeson, de “Invencível” (Unbroken, 2014) e “Brooklyn” (2015), transmite convincentemente a fragilidade de Caleb. Assim, em completa oposição ao confiante Nathan de Oscar Isaac, que fez o papel principal em “Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum” (Inside Llewyn Davis, 2013). Dessa forma, ambos estão perfeitos em suas características antagônicas. Já Alicia Vikander fica com o personagem mais difícil, a enigmática Ava, cuja verdadeira personalidade conhecemos apenas no final.
A estreia de Alex Garland é sólida, o diretor consegue alternar climas com habilidade, usando a edição, a trilha sonora e a fotografia como seus aliados. Na edição, destaque para a cena em que fatos são investigados através do circuito interno de TV. A trilha sonora pontua os momentos mais tensos, economizando em outros, para contrastar. E a fotografia opta por tons beges e escuros em momentos onde aparecem Caleb e Nathan, e por tons claros e brilhantes naqueles com Ava, destacando a diferença entre homem e máquina.
E, por fim, os efeitos especiais destacam-se por evitar o exagero de luzes e botões que piscam para se concentrarem na construção do andróide Ava, com efeito devastador.
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Ficha técnica:
Ex-Machina: Instinto Artificial (Ex Machina, 2015) Dir/Rot: Alex Garland. Elenco: Domhnall Gleeson, Oscar Isaac, Alicia Vikander, Sonoya Mizuno, Corey Johnson, Claire Selby, Symara A. Templeman, Gana Bayarsaikhan, Tiffany Pisani, Elina Alminas.
Assista: Alex Garland fala sobre “Ex-Machina: Instisto Artificial”