O filme Fendas utiliza uma revolucionária descoberta física como instrumento para uma reflexão existencialista.
Em Natal (RN), a pesquisadora Catarina descobre que a luz produz som, e desvenda uma nova fonética extraída dessa origem, que se revela uma forma de comunicação com pessoas de lugares e tempos diferentes. A fonte de seu trabalho é tudo que ela vê, da realidade das ruas a impressões em fotografias e, até, quadros pintados.
No filme, percebemos uma narrativa essencialmente literária. Os diálogos se preocupam em fortalecer as ideias que a história deseja explicar, bem como aprofundar as inquietações da protagonista. Além dos diálogos, há muita voz em off, a princípio somente da personagem principal, mas depois daquela com quem ela consegue se comunicar através das fendas físicas que descobriu.
Porém, tamanha dedicação ao texto não recebe a companhia imagética esperada de uma obra cinematográfica. Os planos são geralmente longos, muitas vezes com câmera estática, nos quais os personagens conversam durante vários minutos ou ouvimos uma voz em off. Alguns enquadramentos poderiam ser caprichados, como aqueles em que Catarina está no computador em sua casa, que coloca na tela um batente de porta em primeiro plano – deslocar a câmera um pouco para o lado apresentaria um resultado melhor na tela. Mas uma exceção é o belo plano da escada em espiral no farol.
Na verdade, Fendas possui uma boa história. Mas aborda um tema introspectivo, que não é fácil de se transformar em imagens, e isso fica evidente. Por isso, seu roteiro possui uma literalidade intensa. Aliás, poderia render um livro muito interessante.
Ficha técnica:
Fendas (Fendas, 2019) Brasil. 80 min. Dir: Carlos Segundo. Rot: Carlos Segundo, Michelle Ferret. Elenco: Roberta Rangel, Juliana Nazar, Ruston Gabriel, Ernesto Guerra, Henrique Fontes, Vivian Moura, Tiquinha Rodrigues, Robson Medeiros, Pedro Fiuza, Julio Schwartz, Paulo Paschoal.
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