O diretor Eli Roth faz bem em retornar ao slasher em Feriado Sangrento (Thanksgiving). Ele se tornou queridinho dos fãs de terror com O Albergue (Hostel, 2005), o sanguinolento longa que virou cult. Mas mais recentemente Roth se tornou genérico, ao realizar filmes pouco pessoais, como a refilmagem Desejo de Matar (Death Wish, 2018) e a fantasia juvenil O Mistério do Relógio na Parede (The House with a Clock in its Walls, 2018).
Desta vez, dentro de sua especialidade, Eli Roth sente liberdade para fugir do tom sombrio e flertar de leve com a comédia. Não chega ser tão abertamente cômico como as franquias Pânico e Pesadelo em Elm Street, até porque envereda pelo gore das entranhas e ultraviolência. Seus seguidores reconhecerão, aliás, o título original do trailer que acompanhava os filmes Planeta Terror (Planet Terror, 2007), de Robert Rodriguez, e À Prova de Morte (Death Proof, 2007), de Quentin Tarantino, lançados como sessão dupla com o nome Grindhouse (2007). Não é à toa que a mistura de terror e comédia marca o tom dessa produção também extremamente violenta.
Bloody Friday
A história se passa em Plymouth, Massachusetts, num feriado de Ação de Graças que coincide com o Black Friday. Numa grande loja, os consumidores enlouquecem por causa das ofertas, e o tumulto acaba em tragédia. Um ano depois, os principais responsáveis começam a ser assassinados um a um, de forma cruel. Entre eles, o dono da loja, Thomas (Rick Hoffman), sua nova esposa, e sua filha Jessica (Nell Verlaque), a protagonista do filme. Sem medo de repetir os clichês do gênero, aqui o serial killer veste uma máscara, a do peregrino John Carver, uma figura histórica da cidade. Em relação a isso, vale apontar que a máscara poderia ser mais original (pois lembra demais o vilão de V de Vingança [V for Vendetta, 2005]) e mais assustadora.
Então, entre as várias mortes, a narrativa segue o fio das investigações para se descobrir quem é o assassino por trás da máscara. Mas exemplos como esse e o recém-lançado A Maldição do Queen Mary (Haunting of the Queen Mary, 2023) indicam que o terror funciona melhor quando o assassino é conhecido. Os cultuados slashers com ícones assassinos comprovam isso – por exemplo, Freddy Krueger, Jason Vorhees, Michael Myers. Tramas detetivescas correm o risco de virar pastiche de Scooby-Doo. Não é nem questão de pesar se o mistério faz sentido ou se é óbvio demais, o problema é que torna o assassino menos ameaçador, já que seus ataques dividem a atenção com o tentar descobrir quem é o culpado. Além do mais, os citados assassinos cults possuem poderes quase ou definitivamente sobre-humanos, o que se traduz em um medo maior para as vítimas e para o público. Por isso, este filme de Eli Roth possuiu um final indefinido, deixando as portas abertas para a volta de um John Carver com essa condição adicional.
Entranhas, miolos e canibalismo
De qualquer forma, o que mais importa em Feriado Sangrento é como acontecerão as mortes, e quem sobreviverá ao final. O primeiro quesito satisfaz os fãs do gênero – as mortes ocorrem de diferentes maneiras, com diferentes imagens de violência explícita. Neste quesito, consegue originalidade – e inclui uma vingança contra as redes sociais, instrumento futilmente durante a tragédia. Além disso, critica também o consumismo, fonte de todo mal nesta história. Já a conclusão não causa surpresas, e cai na fórmula da final girl (aqui um pouco mais abrangente). A quantidade grande de personagens também se torna um problema. Embora existam para que o filme tenha várias vítimas, e também para inserir diversos suspeitos, muitos deles participam quase como extras, sem terem direito ao mínimo de aprofundamento, alguns até somem de cena durante boa parte do filme.
Enfim, Feriado Sangrento se garante com os assassinatos criativos que vão num crescendo de crueldade. Vísceras à mostra, machadadas, cérebros arrancados e até uma indigesta ceia canibal. Mas é um Eli Roth que agora brinca com tudo isso, diferente da seriedade de O Albergue.
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Ficha técnica:
Feriado Sangrento | Thanksgiving | 2023 | 106 min | EUA, Canadá, Austrália | Direção: Eli Roth | Roteiro: Jeff Rendell | Elenco: Patrick Dempsey, Nell Verlaque, Ty Olsson, Gina Gershon, Gabriel Davenport, Karen Cliche, Addison Rae, Milo Manhein, Jalen Thomas Brooks .
Distribuição: Sony Pictures.
Assista ao trailer aqui.
