O novo filme de Michael Mann abrange uma época marcante na vida do piloto e fundador da Ferrari, aqui interpretado por Adam Driver. O enredo se passa em 1957, um ano após a morte de seu filho, aos 24 anos, por distrofia muscular. Ele já não vive com sua esposa Laura (Penélope Cruz), que formalmente é a dona da empresa. Enzo tem uma nova mulher, Lina Lardi (Shailene Woodley), com quem tem um filho, Piero (Giuseppe Festinese).
A Ferrari está endividada e, para salvá-la da falência, Enzo precisa que sua escuderia vença a corrida Mille Miglia. Dessa forma, atrairá a atenção de investidores grandes, como a Fiat e a Ford. Mas, durante um teste, um de seus pilotos morre. Então, como substituto, a Ferrari contrata o jovem em ascensão Alfonso de Portago (Gabriel Leone). As mortes, como o filme mostra, rondam Enzo – não só por sua tragédia pessoal, como por causa do risco elevado das corridas. Em certo momento, o protagonista confessa que construiu um muro ao redor de si para se isolar da emoção por essas perdas.
Esse trecho representa um dos movimentos em busca de um aprofundamento do personagem. No entanto, esse mergulho nunca vai suficientemente ao fundo. Enzo marca presença em quase todas as cenas, mas em movimento na maior parte delas, sem dar tempo para ele parar para reflexões. O filme consegue expressar convicentemente o quanto a perda do filho o sufoca (a primeira visita dele ao cemitério marca esse peso), porém seus sentimentos em relação às duas mulheres de sua vida soam indefinidos.
Mais drama que ação
A propósito, o filme carrega mais no drama do que na ação, apesar de contar com a direção de Michael Mann. A trama se concentra mesmo no protagonista Enzo Ferrari – e por isso faz falta um aprofundamento maior em relação ao personagem. Ainda assim, a dramaturgia possui força bastante para prender o espectador, que logo se vê atraído pela figura dominadora de Ferrari (muito bem construída por Adam Driver).
A corrida de carros mesmo, sem contar o teste trágico, só começa quando faltam 40 minutos para o final do filme. E dura apenas 30. Mas corresponde ao seu ponto alto, provando a especialidade de Michael Mann em cenas de ação. Aqui ele repete a eficiência em surpreender o público, no terrível fato que marcou a Mille Miglia daquele ano, como conseguira na explosão em seu filme anterior, Hacker (Blackhat, 2015). Como senão, o ápice da corrida fica prejudicado pelo fato de os dois carros concorrentes, da Ferrari e da Maserati, serem ambos vermelhos, dificultando assim a distinção entre eles.
O drama absorve a atenção, e a emoção da corrida coloca adrenalina no filme. Só faltou a Ferrari um aprofundamento maior do personagem principal.
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Ficha técnica:
Ferrari | 2023 | 130 min | EUA, Reino Unido, Itália, China | Direção: Michael Mann | Roteiro: Troy Kennedy Martin | Elenco: Adam Driver, Shailene Woodley, Penélope Cruz, Gabriel Leone, Michele Savoia, Valentina Bellè, Giuseppe Festinese, Patrick Dempsey, Sarah Gadon.
Distribuição: Diamond Filmes.
Assista ao trailer aqui.