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Ferrugem (filme)
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Ferrugem

Avaliação:
9/10

9/10

Crítica | Ficha técnica

O filme Ferrugem conduz o espectador à reflexão ética.

Dividido em duas partes, o filme de Aly Muritiba trata de comportamentos inconsequentes. A primeira parte acompanha a adolescente Tati, que insensatamente se filma com seu celular enquanto transa com um colega da escola. A segunda parte se concentra em Renet, colega “ficante” de Tati, que pega o celular dela e posta o vídeo na rede social.

E Tati, então, sofre sua punição imediatamente, através de bullying. Na escola, todos viram o vídeo e a garota se torna alvo de chacota e malícia. Sente-se isolada, sem poder contar aos pais e vendo os amigos, inclusive o colega da transa e o atual “ficante”, se distanciarem dela. A sua reação desesperada a esse castigo externo é o suicídio, que representa seu ataque à escola e aos colegas insensíveis. Por isso, faz questão de se matar dentro do colégio e em frente à câmera de segurança. O olho eletrônico inicia e encerra sua desgraça.

Depois da morte de Tati, entra um fade-out para um longo período com a tela preta, que se abre novamente para indicar a segunda parte expressa em uma cartela. É a continuação da história, logo após o suicídio, com um close up em Renet, com os olhos mareados, que agora assume o protagonismo. Seu pai Davi leva Renet, junto com o seu amigo e a irmã caçula, para a praia. Ao grupo se junta, sem pedir licença, a mãe de Renet, Raquel, divorciada do pai.

A revelação da verdade

O filme sustenta o suspense em revelar se Renet foi o responsável pelo vazamento do vídeo de Tati. Isso culmina em uma sequência demorada com a câmera no banco de trás do carro onde o Davi e Raquel conversam e discutem, até que se revela a verdade. A câmera fixa e o interior claustrofóbico do carro intensificam a angústia do momento. Por fim, a descoberta leva ao impulso da mãe de sair do veículo abruptamente, revoltada com a atitude do pai, acobertando o filho culpado.

E o filme se posiciona do lado da mãe, questionando Davi, que quer proteger o filho, para que esse não sofra com as consequências de um inquérito policial. Raquel não aceita tal opção e revela uma forte crença em seus valores éticos, opondo-se à cultura do jeitinho. Ao se centrar na angústia de Renet, em crise de consciência por seu ato inconsequente, o filme Ferrugem prova que a conduta de Davi é inútil. Afinal, blindar o filho contra um processo criminal não resolve o conflito interno que continuaria a incomodar.

Assim, a inconsequência dos atos das pessoas age como a ferrugem do título, corroendo a ética da sociedade. A onipresença da internet facilita a prática de ações que abusam dos limites do respeito aos outros. Então, cabe a cada indivíduo impor seus próprios freios éticos, evitando que o que se pode fazer não sobrepuja ao que se deve fazer. Renet aprende isso da pior maneira, e amadurece.

Cenários

Formalmente, vale a pena destacar o emprego do cenário em prol da narrativa. Por exemplo, quando Renet e sua mãe conversam na casa em ruínas na praia, enquanto discutem com opiniões opostas, cada personagem está enquadrado em um vão distinto da parede. Então, ao chegarem num consenso, já se colocam à frente do mesmo vão. Além disso, Aly Muritiba recorre ao recurso do pillow shot de Yasujiro Ozu para permitir uma pausa para o espectador poder refletir diante da revelação de que Renet é o responsável por vazar o vídeo. Confira isso na cena em que a câmera estática enquadra em plano médio uma biruta ao vento.

Assim, o filme possui uma boa direção e um roteiro corajoso que põe o dedo na ferida de quem não assume seus valores éticos. É um tema extremamente relevante no atual cenário brasileiro, e o filme Ferrugem, rodado na cidade de Curitiba é impecável.


 
Ficha técnica:

Ferrugem (2018) Brasil. 100 min. Dir: Aly Muritiba. Rot: Aly Muritiba, Jessica Candal. Elenco: Clarissa Kiste, Dudah Azevedo, Enrique Diaz, Giovanni de Lorenzi, Pedro Inoue, Tiffanny Dopke.

Olhar Distribuição

Trailer:

Onde assistir:
Ferrugem (filme)
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