“Filhos da Esperança” é um dos melhores filmes do diretor mexicano Alfonso Cuarón, cujo longa-metragem seguinte seria “Gravidade” (2013), a ficção científica com Sandra Bullock que lhe rendeu o Oscar de direção. Este também se insere no gênero sci-fi.
A estória se passa em Londres, no ano de 2027 e se inicia quando morre a pessoa mais jovem do mundo, que estava com 18 anos. Desde seu nascimento, uma crise de infertilidade impede qualquer outro nascimento, por razões desconhecidas. A humanidade está um caos, as cidades em ruínas e a violência impera. Os refugiados de países mais pobres são perseguidos e presos em um bairro cercado que se assemelha a um campo de concentração nazista. Rebeliões contra esses campos se espalham pela cidade. Quando uma jovem, Kee (Clare-Hope Ashitey) espantosamente engravida, Theo Faron (Clive Owen) precisará leva-la a salvo até um grupo de pesquisa que trabalha para resgatar a perenidade da população, enquanto uma organização rebelde quer usar esse bebê para fins políticos.
A humanidade e a esperança no futuro
O argumento encerra uma tese inspiradora. Sem a esperança de existir um futuro, a humanidade viveria para o curto prazo, despreocupadas com as próximas gerações, inexistentes. E o que Alfonso Cuarón coloca na tela são situações não tão distantes do que vivenciamos hoje. Já existem algumas cidades que vivem em ruínas, como a Londres do filme. O ambiente caótico de “Filhos da Esperança” se encontra apenas um degrau acima da realidade atual, principalmente quanto à intolerância frente a refugiados.
A fim de inserir o espectador nesse ambiente, o diretor de fotografia Emmanuel Lubezki retrata uma Londres cinzenta e esfumaçada. A câmera se movimenta muito, espelhando a insegurança que a população vive, diante de atentados frequentes e violência contra refugiados. Com esse intuito, o filme apresenta um plano sequência que conduz o espectador a prender sua respiração enquanto a câmera acompanha, sem cortes, Theo invadindo um prédio ocupado por refugiados atrás de Kee e seu bebê, durante a fuga dos rebeldes perseguidos pelos soldados.
O resgate de Kee
A cena em que Theo resgata Kee e o bebê comove até provocar lágrimas. A trilha sonora toca uma ópera enquanto os três caminham lentamente para fora do prédio, no momento em que ele é invadido pelos soldados. Mas todos, tanto os moradores refugiados quanto os militares, reverenciam o recém-nascido. O cessar fogo é espontâneo diante do pequeno ser que resgata a esperança na perpetuidade da humanidade. Por im, os créditos surgem com um reconfortante som de fundo de crianças brincando.
Dirigido com maestria, “Filhos da Esperança” afirma que os seres humanos precisam da certeza da existência do futuro, sem esta crença, tudo parece válido, a Terra e tudo que existe nela se tornam descartáveis. O filme convida à reflexão de que, infelizmente, mesmo enquanto se acredita nessa certeza, continuamos a agir sem pensar no futuro.
Ficha técnica:
Filhos da Esperança (Children of Men, 2006) EUA/Reino Unido/Japão 109 min. Dir: Alfonso Cuarón. Rot: Alfonso Cuarón & Timothy J. Sexton e David Arata e Mark Fergus & Hawk Ostby. Elenco: Clive Owen, Michael Caine, Chiwetel Ejiofor, Julianne Moore, Charlie Hunnam, Phaldut Sharma, Tehmina Sunny, Ed Westwick, Pam Ferris, Clare-Hope Ashitey, Peter Mullan, Oana Pellea.
Assista: trailer de Filhos da Esperança