Fim de Semana no Paraíso Selvagem (filme)
[seo_header]
[seo_footer]

Fim de Semana no Paraíso Selvagem

Avaliação:
4.5/10

4.5/10

Crítica | Ficha técnica

É forte a influência do cinema de Kleber Mendonça Filho em Fim de Semana no Paraíso Selvagem. Este é o segundo longa-metragem do seu conterrâneo recifense Severino, que antes fez Todas as Cores da Noite (2015), assinando como Pedro Severien. Na trama desse mais recente filme de Severino, acompanhamos o retorno de Rejane (Ana Flavia Cavalcanti) ao local onde nasceu e foi criada. A trilha musical invasivamente sinistra antecipa o tom desse ambiente, marcado figurativamente pelas chamas que as torres das refinarias expelem com ferocidade, porém nem sempre correspondente ao retrato das andanças da protagonista pela região. O estranhamento, como em O Som ao Redor (2012) de Mendonça, surge nas conversas que nada esclarecem com os habitantes do local, conversas que mais expõem que escondem a tensão que está represada, ou melhor, oculta por baixo das formalidades.

A narrativa é construída em cima de um conflito de poderes. Tal como em Aquarius (2016) de Mendonça, uma luta desigual entre poderosos e oprimidos, na qual a violência é instrumento irrevelado para desobstruir o caminho dos obstáculos que ameacem prejudicar esse status quo estabelecido há gerações. O mistério da trama reside nesse embate, pois Rejane desconfia da versão oficial do recente afogamento de seu irmão Rodrigo. Ela investiga conversando com aqueles que conviveram com Rodrigo, como o seu sócio e o seu namorado, e com antigos conhecidos. Mas os tentáculos dos poderosos procuram limitar suas ações. E, já desde a primeira cena, quando uma respeitada médica do posto de atendimento e um segurança a abordam em sua casa. Na conclusão, os oprimidos confrontam os poderosos, como vimos em Bacurau (2019), que Mendonça dirigiu junto com Juliano Dornelles.

O vazio ao redor

Para construir o mistério que o enredo pede, o diretor Severino investe na ausência de informações. A fotografia de Beto Martins, o mesmo de Todas as Cores da Noite, explora a força imersiva do beira-mar, neste cenário que inclui navios cargueiros, o cais do porto e as citadas torres das refinarias. Os planos longos com estas imagens convidam à reflexão, e marcam também as cenas com personagens. Os diálogos não são frequentes, e a câmera acompanha as explorações da protagonista mesmo quando em trechos que não movem a narrativa. Mas os personagens secundários não conseguem o mesmo espaço, muitos entram e somem da história como se fossem meros pedaços de informação. Porém, com o defeito de pouco esclarecerem.

O filme ameaça algum pico dramático, como quando o filho de Rejane e uma menina encontram um cadáver na praia e discutem com dois seguranças dos poderosos. A trilha musical sinistra encobre as vozes, dando a impressão de que algo trágico acontecerá. Mas nada acontece, ou pelo menos nada tão drástico. Após uma dispensável cena com os amigos rappers, talvez uma concessão comercial para atrair o público jovem, o rapaz embriagado cai na rua e aqueles seguranças o encontram. Testemunha da ocultação do cadáver, cria-se a expectativa de que ele será fatalmente eliminado. No entanto, os jagunços apenas furtam o seu celular, e a trama desperdiça a oportunidade de aumentar a emoção do filme. Por isso, o confronto dos oprimidos contra os poderosos chega abruptamente, sem explicações do que culminou nessa ação corajosa depois de tantos anos de opressão.  

Enfim, esse é o problema de Fim de Semana no Paraíso Selvagem. O filme não entrega elementos suficientes para o espectador se interessar pela sua narrativa. Não revelar para criar mistério é recurso válido, mas acima de certa dose pode esvaziar a trama.  

___________________________________________

Ficha técnica:

Fim de Semana no Paraíso Selvagem | 2022 | Brasil | 116 min | Direção: Severino | Roteiro: Juliana Soares, Luiz Otávio Pereira, Maria Cardozo, Severino, Yuri Lins | Elenco: Ana Flavia Cavalcanti, Joana Medeiros, Edilson Silva, Eron Villar, Enio Cavalcante, Luciano Pedro Jr, Mohana Uchôa, Zezé Motta, Wilson Rabelo, Pedro Wagner, Bione.

Este filme está na programação da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, que acontece entre 20 de outubro e 2 de novembro de 2022.

Obs: poster ilustrativo, não oficial.

Fim de Semana no Paraíso Selvagem (filme)
Fim de Semana no Paraíso Selvagem (filme)
Compartilhe esse texto:

Críticas novas:

Rolar para o topo