A premissa interessante de Free Fire: O Tiroteio (Free Fire, 2016) não consegue se sustentar pelos seus noventa e um minutos de duração.
A ideia, tecnicamente ousada, vem da mente do também diretor Ben Wheatley e sua esposa e habitual colaboradora Amy Jump. A primeira meia hora consiste na apresentação dos personagens e na subsequente concretização da compra de armamentos entre duas gangues em um galpão de uma fábrica desativada. Tudo acontece sob um clima terrivelmente tenso, que se acentua com as piadas provocativas entre os envolvidos. É a primeira vez que esses grupos fecham um negócio, e qualquer deslize pode descambar em violência. Para azar de todos, dois dos rapazes, em lados opostos, já tinha entrado em uma séria desavença no dia anterior, e resolvem reacender a discussão.
Então, se inicia o grande desafio que o filme propõe. Dali para a frente, acontece um tiroteio de 55 minutos. Segundo o site IMDb, é o tiroteio mais longo da história do cinema. Doze personagens trocam tiros, enquanto se revelam as verdadeiras alianças entre eles, inclusive com a descoberta de um esquema de traição. A violência cresce gradativamente, até que, na parte final, tanto nos enquadramentos como nas imagens gore, Free Fire: O Tiroteio flerta com os ícones do gênero terror.
Tensão e confusão
Assim, não há descanso para esses malditos personagens, nem para os espectadores. A tensão constante pode levar ao esgotamento do público, até porque as variações entre as microssituações de tiros parecem se esgotar. Ben Wheatley, o diretor, já realizara sete longas-metragens antes de Free Fire: O Tiroteio, mas parece não estar à altura da demanda de seu próprio roteiro.
Quando os personagens se espalham pelo galpão, o filme se torna confuso em relação à geografia interna desse cenário. Às vezes, nem sabemos quem está atirando em quem, inclusive porque alguns personagens se parecem entre si na escuridão e nos planos curtíssimos do filme. A montagem alucinada parece desnecessária, pois o enredo em si já possui tensão suficiente para prender o espectador. Ao inserir vários planos curtos, Wheatley provoca o desnorteamento geográfico nas cenas.
Na verdade, se o tiroteio acontecesse entre os seis principais personagens, funcionaria melhor. Dessa forma, se tiraria melhor proveito do ótimo elenco e dos personagens melhor caracterizados. Porém, com doze, o interesse se dilui e ainda atrapalha a compreensão das situações.
Contando com produção executiva de Martin Scorsese, Free Fire: O Tiroteio parece desenvolver uma ideia que ficou represada em Cães de Aluguel (Reservoir Dogs, 1992). Afinal, esse filme de Quentin Tarantino também explora a violência sem controle entre bandidos dentro de um galpão. Aqui, essa premissa vai ao extremo, e poderia render um filme muito mais eletrizante sob uma direção mais talentosa.
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Ficha técnica:
Free Fire: O Tiroteio | Free Fire | 2016 | Reino Unido | 91 min | Direção: Ben Wheatley | Roteiro: Amy Jump, Ben Wheatley | Elenco: Sharlto Copley, Brie Larson, Armie Hammer, Cilliam Murphy, Enzo Cilenti, Sam Riley, Michael Smiley, Babou Ceesay, Noah Taylor, Jack Reynor, Mark Monero, Sara Dee, Tom Davis.