Fúria em Alto Mar consegue sustentar a emocionante trama do seu material original, o livro “Firing Point”, escrito por George Wallace e Don Keith. Aliás, um feito e tanto, pois se trata de um subgênero complicado para o cinema, que é o filme de guerra cuja ação acontece dentro de um submarino.
Na estória, o ministro de defesa russo começa um golpe de estado, tomando à força o poder do presidente Zakarin. Para evitar uma nova guerra mundial, o capitão americano Joe Glass (Gerard Butler) deverá conduzir um submarino para buscar Zakarin. Antes disso, um pequeno grupo de soldados dos EUA que invade o território russo por terra precisa resgatar o presidente.
A principal causa para o filme funcionar se encontra na decisão de não restringir a aventura ao ambiente claustrofóbico do interior do submarino. Há combates também em terra, acontecendo paralelamente ao ataque através do mar. E, como era de se esperar, as sequências em solo firme emocionam muito mais. Um dos complicadores de se filmar uma sequência de ação em um submarino é que, dentro dele, não existe uma grande janela de vidro por onde se possa mostrar torpedos se aproximando, ou sendo disparados, ou qualquer cena equivalente.
Por isso, o que o público vê são os tripulantes cercados por paredes com vários equipamentos. Perde-se, inclusive, a noção espacial do submarino dentro do mar. Então, para descrever o que se passa, a solução é narrar através das ordens que o capitão transmite, o que, convenhamos, não consegue emocionar satisfatoriamente. Além disso, quando filmado de fora, o submarino se movimenta lentamente dentro do mar e, evidentemente, essa morosidade não contribui para gerar ações empolgantes.
Submarino em ação
Nessas tomadas externas do submarino dentro do mar, o filme tenta gerar suspense nas sequências em que a embarcação passa raspando por rochas e minas submersas. Porém, exageram tanto na proximidade que resultam muito falsas. Por outro lado, a cena de maior suspense dentro da água é engenhosa, e aproveita o clima de silêncio obrigatório que recentemente esteve nas telas com o eletrizante Um Lugar Silencioso (2018). Nela, o submarino atravessa um local com detectores russos de som, portanto a embarcação deve navegar com os motores desligados e sem nenhum ruído, nem mesmo uma conversa entre os tripulantes. De repente, quando um dos marinheiros aperta uma porca que estava rangendo, a chave de boca se solta de suas mãos e cai perigosamente em direção ao chão.
Por outro lado, Fúria em Alto Mar apresenta algumas falhas nos seus efeitos visuais. Por exemplo, o chroma key verde que fica visível em algumas cenas em que o submarino sai ou submerge das águas. Além disso, traz algumas situações e personagens clichês. Nesse aspecto, temos o ministro de defesa dos EUA, interpretado por Gary Oldman. Ele insiste em começar logo a guerra ao invés de tentar resgatar o presidente russo.
Clímax
Por fim, o que salva o filme e justifica toda a ação militar que acompanhamos durante suas duas horas de duração é a solução inesperada em seu clímax. Criado pelos autores do livro que serviu de base para o roteiro, esse desfecho funciona sem cair no piegas. Graças à bem realizada adaptação realizada pelos roteiristas Arne Schmidt e Jamie Moss.
O detalhe essencial é a construção de um personagem secundário, ou terciário mesmo, que é o capitão do navio de guerra russo que fica frente a frente com o submarino. Enfim, é porque acreditamos que ele se mantém fiel ao ministro russo rebelde que essa cena final surpreende. Com isso, saímos satisfeitos com o que assistimos.
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Ficha técnica:
Fúria em Alto Mar (Hunter Killer, 2018) Reino Unido/China/EUA Dir: Donovan Marsh. Rot: Arne Schmidt, Jamie Moss. Elenco: Gerard Butler, Linda Cardellini, Gary Oldman, Toby Stephens, Taylor John Smith, Michael Nyqvist, Ryan McPartlin, Caroline Goodall, Michael Trucco, Theo Barklem-Biggs, Zane Holtz, Shane Taylor, Gabriel Chavarria, Yuri Kolokolnikov, Sarah Middleton.
Imagem Filmes / Califórnia Filmes