Garra de Ferro conta a dramática história dos irmãos Von Erich, lutadores de luta livre americanos que ficaram famosos nos anos 1970 e 1980. O pai deles, o implacável wrestler Fritz Von Erich, apelidado de Garra de Ferro, teve a sorte de ter seis filhos. Justamente o que ele queria, pois sonhava em transformar seus herdeiros em campeões de wrestling do estado do Texas, dos Estados Unidos e do mundo. Mas o mais velho dos rebentos morreu cedo, aos seis anos. E o mais novo, Chris, era pequeno demais para lutar, e acabou se suicidando aos 21. Esse caçula nem é mencionado no filme, que se concentra, então, em Kevin (Zac Efron), David (Harris Dickinson), Kerry (Jeremy Allen White) e Mike (Stanley Simons).
O longa desvenda os bastidores desse esporte duvidoso, no qual os oponentes combinam os golpes como danças bem ensaiadas. Os vencedores não são os mais fortes, ou os que lutam melhor, mas os que conseguem cativar o público, seguindo a lógica de que quanto maior audiência mais dinheiro ganham todos os envolvidos. Mas, sem dúvida, todos os lutadores precisam ter um físico extremamente bem-preparado, pois os golpes e as quedas são duríssimos.
Patriarcalismo sufocante
Além disso, o filme toca no patriarcalismo sufocante. Fritz Von Erich (Holt McCallany) chega a ser opressor por causa de sua obsessão em transformar seus filhos em lutadores. Contrariando todas as melhores práticas de como criar filhos, ele afirma abertamente qual é a sua ordem de preferência entre eles. E o ranking segue quem é melhor nos esportes. E, quando o filme começa, Kevin já é famoso, David está no caminho e Kerry pode ir para as Olimpíadas como arremessador de disco. Já o mais novo Mike, para o pai, é um fracasso, pois não está interessado em esportes – ele quer ser músico. A mãe Doris (Maura Tierney), por sua vez, é fraca demais para confrontar o seu marido. Os próprios filhos, com exceção de Mike, aceitam as exigências do pai sem reclamar. Enfim, nada muito diferente dos lares em que o pai impõe que seus filhos sejam bem-sucedidos nos empregos que dão mais prestígio.
Direta ou indiretamente, esse ambiente tóxico resulta em várias tragédias para os Von Erich. E, em seu terceiro longa, o diretor e roteirista Sean Durkin mostra um timing apurado para apresentar esses eventos dramáticos. Usando fade-outs que suspendem a narrativa por uns instantes, telefonemas com notícias ruins, e até uma ardilosa ocultação parcial do efeito de um acidente automobilístico antes de revelá-lo, os acontecimentos surgem na tela como surpresas chocantes. Apesar de serem muitas tragédias para uma só família, nunca soa apelativo. Afinal, no final das contas, se baseiam em acontecimentos reais. Garra de Ferro, nesse aspecto, lembra outro ótimo filme sobre uma família que enfrenta várias tragédias, o clássico Em Cada Coração um Pecado (Kings Row, 1942), de Sam Wood. Nesse filme, inclusive, o personagem de Ronald Reagan enfrenta uma perda similar à de Kerry.
Pesado, mas não sufocante
Essencialmente, Garra de Ferro é um drama pesado. Ao incutir o esporte como prioridade absoluta na vida dos seus filhos, Fritz restringe as perspectivas deles. Fora dos ringues, não há vida para os irmãos Von Erich. O filme se torna pessimista, diante desse niilismo forçado. Até mesmo em relação ao sobrevivente Kevin, pois a parte final mostra que ele não aprendeu a lição. Embora pareça um final feliz porque ele brinca de futebol com os filhos, o desfecho implica que o esporte continuará prioridade na família – como de fato será, com a ida da terceira geração para os ringues. De fato, o único instante realmente libertador mostra Doris, a mãe, se recusando a fazer o jantar para o marido. Apesar de tudo, o filme não chega a ser sombrio, pois aproveita a própria luta livre como alívio cômico para essa história tão trágica.
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Ficha técnica:
Garra de Ferro | The Iron Claw | 2023 | 130 min | EUA, Reino Unido | Direção: Sean Durkin | Roteiro: Sean Durkin | Elenco: Zac Efron, Jeremy Allen White, Harris Dickinson, Lily James, Maura Tierney, Holt McCallany, Stanley Simons, Michael Harney, Kevin Anton.
Distribuição: Califórnia Filmes.
Estreia nos cinemas no dia 07 de março de 2024.
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