Rita Hayworth é “Gilda”, e entre os 65 filmes de sua carreira, este é o que marcou sua imagem para a eternidade. Sensual do primeiro ao último momento em que aparece nas telas. Mas, um deles é eterno. Rita Hayworth explode a temperatura da tela ao cantar e dançar “Put the Blame on Mame”, vestindo um longo preto e fazendo um strip tease que, na realidade, se restringe a apenas sua luva direita. Ela é a femme fatale deste film noir capaz de deixar qualquer homem a seus pés.
O enredo
A ação se passa em Buenos Aires, no final da Segunda Grande Guerra, onde Johnny Farrell (Glenn Ford) ganha dinheiro com sua habilidade nas cartas. No cassino, seus truques não são bem-vindos e Johnny é forçado a devolver todo o dinheiro que ganhou. Para sua sorte, ele cai nas graças de Ballin Mundson, o dono do cassino, que o contrata para ser seu braço direito.
Contudo, as coisas começam a desandar quando Ballin se casa com Gilda (Rita Hayworth), um antigo e mal resolvido caso de Johnny. Petulante, Gilda provoca o ex-namorado, o que pode ser sinal de seu sincero amor por ele, ou, pelo contrário, uma forma de vingança. Johnny se controla, até que Gilda passa a sair com outros homens somente para provocar ciúmes. Com o pretexto de proteger seu patrão, Johnny afugenta os amantes de Gilda. Enquanto isso, Ballin é perseguido por alemães por descumprir sua parte em um plano para comercialização de tungstênio.
Apesar da trama ter um mote intrigante, é o mistério quanto ao relacionamento passado de Gilda e Johnny que mais impacta o espectador. E esse segredo se mantém até o final, porque nunca é totalmente revelado, apenas se evidencia que ambos eram intensamente apaixonados e que foi Johnny que pulou fora da união.
Film noir
“Gilda” entra no gênero film noir, mas, o diretor King Vidor não é extremista em relação a isso. A tradicional narração em off, do personagem de Glenn Ford, está presente. Porém, a fotografia possui tons claros e a mise-en-scène passa longe do expressionismo alemão que inspirou tal gênero. Além disso, não há enquadramentos inclinados e as sombras são poucas, destacando-se apenas a silhueta de Johnny quando ele se dirige a Gilda no bar para se despedir, já perto do fim do filme. King Vidor prefere olhar para novas tendências de filmagem, e insere uma câmera subjetiva quando insinua que Ballin pode estar observando Gilda e Johnny em sua casa, pelas janelas.
Enfim, tudo isso colabora para o ritmo ágil do filme, que nunca perde o interesse. Contudo, o que realmente torna “Gilda” inesquecível é Rita Hayworth. Ou melhor, Gilda interpretada por ela. De fato, poucas vezes no cinema personagem e atriz se fundiram tão fortemente que criaram uma figura maior do que a soma das duas, a ponto de Hayworth soltar a famosa afirmação: “Todos os homens que conheci foram para a cama com Gilda… e acordaram comigo.”
Ficha técnica:
Gilda (Gilda, 1946) EUA, 110 min. Dir: King Vidor. Rot: Marion Parsonnet, Ben Hecht. Elenco: Rita Hayworth, Glenn Ford, George Macready, Joseph Calleia, Steven Geray, Joe Sawyer, Gerald Mohr, Mark Roberts, Ludwig Donath, Donald Douglas.