Ridley Scott é um hábil diretor de superproduções. Se seus filmes agradam ou não ao grande público depende do roteiro. Seu último longa, Napoleão (2023), por exemplo, dividiu opiniões por conta da abordagem satírica dessa figura histórica e mitológica. Mas, independentemente disso, ele possui cenas de batalhas monumentais que comprovam a competência de Scott. Estreia agora seu novo filme, Gladiador II, outra megaprodução de época, que revisita um dos maiores sucessos do diretor, 24 anos depois.
Talvez com receio de manchar sua obra-prima, Ridley Scott não se arrisca. Filma um roteiro que parece uma repetição do mesmo enredo, com apenas algumas variações. É como se o protagonista de Gladiador (2000), Maximus (que foi interpretado por Russell Crowe), voltasse encarnado agora em dois personagens. Um deles, Lucius (Paul Mescal) passa pela mesma jornada do escravo sedento de vingança comprado para virar gladiador por um empresário do ramo (Macrinus, vivido por Denzel Washington). E o outro, Acacius (Pedro Pascal) encarna o general romano aclamado como herói que se volta contra o imperador de Roma (desta vez, são dois imperadores, os irmãos gêmeos Geta [Joaquin Quinn] e Caracalla [Fred Hechinger]). Nessa trama revisitada, cabe até um novo momento Spartacus (o filme de 1960 de Stanley Kubrick), quando vários gladiadores se declaram culpados para livrar o líder Lucius.
Essa cautela não impede que a trama seja intrigante, ainda que, de certa maneira, previsível. Sua força está nos marcantes personagens antagonistas. Macrinus representa o político da pior espécie, um maquiavélico construtor de intrigas capaz de cometer assassinatos com as próprias mãos. Os gêmeos, por sua vez, merecem integrar a lista dos imperadores mais loucos da História. Geta se perde em sua ambição pelo poder, enquanto Caracalla possui deficiência mental por natureza. Ambos, por isso, viram fáceis alvos de manipulação para Macrinus.
Elenco
Paul Mescal, que ganhou fama e prestígio no drama Aftersun (2022), não é uma escolha óbvia para interpretar um soldado que se torna um temível gladiador. Mescal difere do perfil corpulento que costuma ser a preferência para esse tipo de papel, como Russell Crowe, e o seu oponente no filme, Pedro Pascal, muito conhecido por seus filmes de ação. Porém, depois do estranhamento inicial, Mescal acaba convencendo, inclusive no confronto individual dos dois protagonistas no Coliseu. E o talento dramático de Mescal justifica sua escalação, pois seu personagem Lucius enfrenta um dilema interno em relação à mãe que se casou com o general romano. Por sinal, vale a pena ver ou rever o primeiro filme para entender mais facilmente essas relações, já que os rápidos flashbacks talvez não sejam suficientes.
Espetáculo
Gladiador 2 apresenta cenas impressionantes. Entre elas, o delírio de encher o Coliseu com água para recriar as condições de uma batalha naval lá dentro. Produzido com computação gráfica de ponta, esse trecho enche os olhos do espectador – e possui relevância para a trama. Os efeitos visuais também criam temíveis babuínos que atacam os gladiadores no Coliseu. Parecem tão monstruosos que até os diferem dos animais reais, o que deve ser uma escolha proposital para evitar críticas de maltrato aos bichos. Os confrontos no Coliseu, aliás, são muito bem filmados, mesclando coreografias e dublês com CGI.
Quem espera uma batalha grandiosa como a que abre o primeiro Gladiador, encontrará esse confronto no ataque dos romanos comandados por Acacius contra o povo africano onde vive Lucius. Nessa cena, uma numerosa frota de barcos munida até de catapultas mede forças com os africanos protegidos por imensas muralhas.
Na parte final, o filme deixa a impressão de que o confronto do exército dos imperadores com o dos rebeldes trará outro confronto empolgante. Porém, isso fica só na expectativa. Desta vez, se sobressai uma mensagem de paz e união que os realizadores consideraram mais apropriado nesses tempos de polarização extrema. O espetáculo perde com isso, mas a intenção é louvável.
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Ficha técnica:
Gladiador II | Gladiator II | 2024 | 138 min. | Reino Unido, EUA | Direção: Ridley Scott | Roteiro: David Scarpa | Elenco: Paul Mescal, Denzel Washington, Connie Nielsen, Pedro Pascal, Joseph Quinn, Fred Hechinger, Derek Jacobi, Fred Hechinger, Rory McCann, Yuval Gonen.
Distribuição: Paramount Pictures.