Aviso aos leitores: esta crítica contém spoilers. Homem-Aranha: Sem Volta para Casa traz uma novidade, aparentemente, inédita nos filmes de super-heróis. O marketing procura guardar o segredo, escondendo nomes nos créditos principais, mas os fãs atentos devem ter desconfiado ao verem no trailer os vilões de outros filmes da franquia. Afinal, se há espaço para o retorno do Duende Verde, do Dr. Octopus, do Homem-Areia e do Electro (interpretados pelos mesmos atores dos filmes anteriores), o caminho está aberto para o retorno das outras duas versões do Homem-Aranha também.
O interessante é que essa brecha nasce (não oficialmente) de um spin-off deste super-herói, o longa de animação Homem-Aranha no Aranhaverso (Spider-Man: Into the Spider-Verse, 2018). Nessa inventiva criação escrita por Phil Lord e Rodney Rothman, e dirigida por este último junto com Bob Persichetti e Peter Ramsey, sete versões do super-herói se reúnem para lutarem juntos contra o mal. A solução para justificar esse cruzamento é a ideia de universos paralelos, mesma chave para esse terceiro filme com o protagonismo da versão incorporada por Tom Holland.
Assim, o grande trunfo de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa é reunir as três versões Iive-action mais recentes do herói aracnídeo. Em outras palavras, o atual Tom Holland, e os anteriores Andrew Garfield e Tobey Maguire. Além da novidade, esse encontro procura resolver as infindáveis discussões de qual versão cada fã prefere (obs: na sessão em que assisti ao filme, a aparição de Tobey Maguire foi a mais aclamada). E apaziguar, também, as críticas à falta de amadurecimento da atual versão de Tom Holland.
A trama
Por um lado, sua ingenuidade juvenil provoca o conflito principal dessa nova aventura. Quando sua identidade se torna publica com o vazamento do vídeo gravado por seu último adversário, o Mysterio, Peter Parker procura o Dr. Estranho (Benedict Cumberbatch) e pede que este faça todos se esquecerem dessa revelação. Mas, Peter pede algumas exceções durante o processo, o que acaba desvirtuando a magia, abrindo uma conexão entre os mundos paralelos do Homem-Aranha.
Então, para evitar um desastre apocalíptico, este Homem-Aranha conta com a ajuda dos heróis nas versões anteriores. Ao atuar ao lado dos colegas mais experientes, o atual Homem-Aranha amadurece. A morte da Tia May (Marisa Tomei), também força esse processo. Ao final desta aventura, esse aracnídeo está preparado para assumir uma faceta mais heroica e menos cômica. De fato, como num mea cupa dos realizadores, uma nova magia do Dr. Estranho fará todos se esqueceram de Peter Parker. Ou seja, abrindo caminho para que ele recomece sua trajetória nos próximos filmes.
Se não há unanimidade de preferências entre as versões do Homem-Aranha, o mesmo não parece acontecer com seus vilões. Homem-Aranha: Sem Volta para Casa confirma que o Duende Verde é o arqui-inimigo mais poderoso desse super-herói. No filme, ele é o último a ser derrotado, e sua presença em cena sempre causa arrepios. Essa força vem, principalmente, por ser um adversário que ataca o psicológico do herói. Além disso, o Duende Verde se beneficia da potência da interpretação de Willem Dafoe – ainda que Alfred Molina (Dr. Octopus) e Jamie Foxx (Electro) também sejam grandes atores.
O mesmo padrão Marvel
Porém, no quesito ação, Homem-Aranha: Sem Volta para Casa peca por seguir o padrão Marvel de final apoteótico com diversos heróis e vilões se combatendo ao memo tempo. Aliás, a reunião dos três Homens-Aranhas cumpre, também, essa necessidade. Parece que a Marvel não consegue mais apresentar um duelo mano-a-mano empolgante, e por isso se apoia em ações múltiplas, aceleradas e difíceis de se acompanhar, enquanto o mundo está prestes a acabar.
Enfim, Homem-Aranha: Sem Volta para Casa vale pela ousadia de reunir as três versões do herói, ainda que seja uma ideia inaugurada antes em Homem-Aranha no Aranhaverso. E, também, por, aparentemente, admitir alguns erros na construção dessa versão. Mas, se isso foi resolvido só confirmaremos quando surgir a próxima aventura do Homem-Aranha. Talvez esse seja apenas o fim da trilogia dirigia por Jon Watts.
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Ficha técnica:
Homem-Aranha: Sem Volta para Casa | Spider-Man: No Way Home | 2021 | EUA | 148 min | Direção: Jon Watts | Roteiro: Chris McKenna, Erik Sommers | Elenco: Tom Holland, Zendaya, Benedict Cumberbatch, Jacob Batalon, Jon Favreau, Jamie Foxx, Willem Dafoe, Alfred Molina, Benedict Wong, Tony Revolori, Marisa Tomei, Angourice Rice.
Distribuição: Sony.